Preconceito: A ética e os estereótipos irracionais


Antonio Carlos Olivieri, Da Página 3 Pedagogia & Comunicação

Ética é a área da filosofia que estuda o comportamento humano. Portanto, um problema ético de grande relevância e interesse é o preconceito, uma vez que se trata de um comportamento que cria vários problemas práticos para o ser humano. Para o filósofo, ou melhor, no âmbito filosófico, para se tratar do tema, a primeira questão a ser levantada é: o que é ou em que consiste o preconceito?
A resposta que se dará a essa questão aqui tem como base as ideias do filósofo e jurista italiano Norberto Bobbio, cujas posições éticas e políticas costumam ser acolhidas pelos mais diferentes grupos, sejam de direita ou esquerda, por exemplo. Ao analisar o preconceito, Bobbio deixa claro que ele se constitui de uma opinião errônea (ou um conjunto de opiniões) que é aceita passivamente, sem passar pelo crivo do raciocínio, da razão.
 O estereótipo
Em geral, o ponto de partida do preconceito é uma generalização superficial, um estereótipo, do tipo "todos os alemães são prepotentes", "todos os americanos são arrogantes", "todos os ingleses são frios", "todos os baianos são preguiçosos", "todos os paulistas são metidos", etc. Fica assim evidente que, pela superficialidade ou pela estereotipia, o preconceito é um erro.

Entretanto, trata-se de um erro que faz parte do domínio da crença, não do conhecimento, ou seja ele tem uma base irracional e por isso escapa a qualquer questionamento fundamentado num argumento ou raciocínio. Daí a dificuldade de combatê-lo. Ou, nas palavras do filósofo italiano, "precisamente por não ser corrigível pelo raciocínio ou por ser menos facilmente corrigível, o preconceito é um erro mais tenaz e socialmente perigoso".
Ao apresentar a base irracional do preconceito, Bobbio levanta a hipótese de que a crença na veracidade de uma opinião falsa só se torna possível por que essa opinião tem uma razão prática: ela corresponde aos desejos, às paixões, ela serve aos interesses de quem a expressa.
 Preconceitos coletivos
Bobbio distingue os preconceitos individuais, como as superstições, por exemplo, dos coletivos. Fixa sua atenção nos nestes últimos, porque os primeiros são inócuos, não produzem resultados graves. Ao contrário do que ocorre quando um grupo social apresenta um juízo de valor negativo sobre outro grupo social. Dizer que os homens são diferentes entre si é um juízo de fato, mas, a partir disso, não existem elementos que fundamente juízos de valor que considerem um grupo de homens superior a outro. É precisamente essa diferenciação valorativa que costuma servir de base à discriminação, à exploração, à escravização ou à eliminação de um grupo social por outro.

Racismo no Brasil
O tipo de preconceito mais frequente em nosso país é o racial. O racismo no Brasil fica mais evidente quando o brasileiro identifica o negro com seu papel social. A constatação, obtida por meio de pesquisa, é da psicóloga e professora da Faculdade de Educação da Universidade Estadual de Campinas, Ângela Fátima Soligo.

Em sua pesquisa, a professora pediu aos entrevistados que atribuíssem dez adjetivos aos homens e mulheres negros. Nessa primeira fase, houve equilíbrio. Os pesquisados utilizaram adjetivos positivos para definir os negros, como competentes, alegres, fortes. Em seguida, eles foram estimulados a qualificar esses adjetivos, atribuindo-lhes características.
O resultado final revelou que a maioria dos entrevistados, aí incluídos também os negros, limita-se a reproduzir os chavões sociais. O negro é alegre porque gosta de samba e Carnaval, forte porque se dá bem nos esportes e competente para trabalhos braçais. "O adjetivo é positivo, mas o papel social ligado ao negro mostra um preconceito arraigado na nossa cultura", concluiu a estudiosa.
Mesmo nas exceções, a regra se confirmou. "Houve um entrevistado que disse que o negro pode ser um advogado competente, mas apenas para livrar outros negros da cadeia, isolando-os à condição de bandidos e marginais". A pesquisa reforçou a tese de que o brasileiro pratica um "racismo camuflado": em tese, diz que não tem preconceito, mas prefere limitar as possibilidades e potencialidades da raça negra. Por exemplo, na pesquisa, não houve identificação do negro com o intelectual ou o político.
Os dados da pesquisa foram semelhantes em todos os estados pesquisados, inclusive na Bahia - cuja capital, Salvador, tem população predominantemente negra e esta culturalmente ligada a tradições africanas. Ela apontou que o modelo, a conduta e a história dos brancos são mais valorizados em nossa sociedade. Com isso, os próprios negros acabam incorporando uma imagem negativa sobre sua raça.
O problema do racismo brasileiro é antigo. Tem início por volta do final do primeiro século de colonização, quando os portugueses constataram a impossibilidade de escravizar os índios. O negro, então, foi trazido à força para o país, para servir de escravo nas plantações de cana de açúcar. Independentemente da miscigenação, o negro e os mestiços sempre foram discriminados socialmente no Brasil.
A própria legislação brasileira, durante quase 500 anos, estimulou a discriminação e o preconceito. Nem após a abolição da escravatura e a proclamação da República, o negro deixou de ser discriminado. Só em 1988, com a promulgação da Constituição que está em vigor (art. 5º - inciso XLII), a prática do racismo passou a ser considerada um crime inafiançável e imprescritível.
 Nazismo: um regime político racista
O Nazismo ou Nacional-Socialismo foi uma doutrina que exacerbava as tendências nacionalistas e racistas e que constituiu a ideologia política da Alemanha, durante a ditadura de Adolf Hitler (1939-1945). O pensamento nazista apregoava a superioridade cultural e racial dos alemães, que estariam vocacionados a impor-se sobre os outros povos da Europa. Elegeu como seus inimigos ideológicos o liberalismo e o comunismo, que estariam corrompendo as nações europeias e pelos quais seriam os responsáveis o povo judeu.

Considerados como uma raça inferior, além de inimigos do regime, os judeus foram inicialmente discriminados e, depois, violentamente perseguidos. Não só na Alemanha mas em todos os países que foram dominados pelo nazismo, a partir de 1939, os judeus tinham seus bens confiscados pelo Estado e eram confinados em guetos. Com o início da guerra, passaram a ser utilizados como escravos. O ápice do projeto nazista para os judeus, entretanto, era a chamada "solução final", ou seja, o extermínio de todos os judeus europeus. Estima-se que seis milhões de judeus tenham sido massacrados pelo nazismo.
Vale, porém, lembrar que o furor do preconceito nazista não se restringiu aos judeus. Outros povos também foram perseguidos, como os ciganos, ou considerados inferiores, como os eslavos. O nazismo também perseguiu e confinou os homossexuais e chegou a instituir um programa de eliminação dos deficientes mentais da Alemanha.
A esse propósito, pode-se apresentar os diversos tipos de preconceitos sociais mais frequentes, deixando de lado o racismo, já suficientemente comentado:
a) Preconceito quanto à classe social:
Em geral, é a tendência a considerar o "pobre" como um ser humano inferior, em função de sua pobreza, para prevalecer-se dele. A diferença social não pode ser transposta para o plano intelectual ou moral. Neste último, em especial, todos os homens desfrutam e devem desfrutar de uma mesma dignidade.

b) Preconceito quanto à orientação sexual:
Atualmente, é cada vez mais reconhecido, inclusive no aspecto legal, o direito de o indivíduo se relacionar sexual e afetivamente com outro(s) indivíduo(s) do mesmo sexo. A escolha sexual não interfere no caráter e não é obstáculo ao desenvolvimento de qualquer atividade. A homossexualidade (homo = igual), porém, ainda é muito discriminada no Brasil, o que é um resquício da sociedade patriarcal e machista que o país foi até cerca de 40 anos atrás.

c) Preconceito quanto à nacionalidade:
Entre nós, brasileiros, é frequente tachar os portugueses de burros. Isso também é um vestígio do passado colonial: uma forma de nos vingarmos do povo que naquela época mandava em nosso país. Em São Paulo, no começo do século 20, devido à imigração, havia preconceito contra os italianos, chamados pejorativamente de "carcamanos". Na Argentina, há décadas atrás, os brasileiros eram chamados de "macaquitos", por supostamente imitarem as modas vindas dos Estados Unidos.

d) Preconceito contra deficientes:
Há uma grande diferença entre deficiência e incapacidade. No entanto, não é incomum que os deficientes sejam discriminados, particularmente em termos profissionais. Recentemente, o governo brasileiro tem desenvolvido políticas que visam a integrar o deficiente à sociedade e coibir a discriminação.

Finalmente, você pode estar se perguntando: tudo bem, já está muito claro o que é preconceito, como ele se origina e quais são seus tipos mais frequentes, mas a questão principal é como acabar com ele? Pois bem, veja a resposta dada pelo próprio Norberto Bobbio:
“Quem quer que conheça um pouco de história, sabe que sempre existiram preconceitos nefastos e que mesmo quando alguns deles chegam a ser superados, outros tantos surgem quase que imediatamente.
Apenas posso dizer que os preconceitos nascem na cabeça dos homens. Por isso, é preciso combatê-los na cabeça dos homens, isto é, com o desenvolvimento das consciências e, portanto, com a educação, mediante a luta incessante contra toda forma de sectarismo. Existem homens que se matam por uma partida de futebol. Onde nasce esta paixão senão na cabeça deles? Não é uma panaceia, mas creio que a democracia pode servir também para isto: a democracia, vale dizer, uma sociedade em que as opiniões são livres e portanto são forçadas a se chocar e, ao se chocarem, acabam por se depurar. Para se libertarem dos preconceitos, os homens precisam antes de tudo viver numa sociedade livre.
Antonio Carlos Olivieri, Da Página 3 Pedagogia & Comunicação é escritor, jornalista e diretor da Página 3 Pedagogia & Comunicação.

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Solidão do conhecimento

Os enfrentamentos para quem pensa filosoficamente

POR TATIANA MARTINS ALMÉRI*

Preconceitos, mal-entendidos, interpretações dúbias, subentendimento, ambiguidade... Quem nunca passou por uma situação dessa complexidade? Se refletirmos a fundo, o que se apresenta banal a alguns, muitas vezes é complexo e incompreensível a outros. Assim nada passa a ser tão simples e evidente como achamos. Discutir filosoficamente, falar sobre Filosofia ou, quem sabe, chegar ao extremo de apresentar-se como profissão: filósofo, é algo que se chama atualmente de enfrentar o INEXTRICÁVEL.
Algo embaraçoso? Muito mais do que isso, pode ser visto até como enfrentar um preconceito social, tamanho é o desentendimento e a falta de informação da sociedade com relação a essa profissão. A busca aqui é tentar acabar com o obscurantismo, é como filosoficamente Descartes discutia: tentar desvendar os olhos de quem “passa a vida de olhos fechados sem jamais procurar abrilos”, clarear o pensamento de pessoas que acabam se tornando cegas voluntariamente, à mercê das ilusões propagadas de geração para geração e das manipulações sistemáticas. E é nesta semântica que se concretiza as duas grandes atitudes do erro: a prevenção e a precipitação.
A prevenção “é a facilidade com que nosso espírito se deixa levar pelas opiniões e ideias alheias, sem se preocupar em verificar se são ou não verdadeiras. São as opiniões que se cristalizam em nós sob a forma de preconceitos (colocados em nós por pais, professores, livros, autoridades) e que escravizam nosso pensamento, impedindo-nos de pensar e de investigar. Já a precipitação, corresponde à facilidade e à velocidade com que nossa vontade nos faz emitir juízos sobre as coisas antes de verificarmos se nossas ideias são ou não são verdadeiras. São opiniões que emitimos em consequência de nossa vontade ser mais forte e poderosa do que nosso intelecto. Originam-se no conhecimento sensível, na imaginação, na linguagem e na memória.” (DESCARTES apud CHAUÍ, 2003, p. 127).
Preconceito
“Há diversas complicações inerentes ao conceito de preconceito. Uma delas se refere a que o indivíduo preconceituoso tende a desenvolver preconceitos em relação a diversos objetos – ao judeu, ao negro, ao homossexual, etc. -, o que já indica uma forma de atuação desenvolvida por ele de certa maneira independente das características dos objetos alvos do preconceito, que são distintos entre si. Isto mostra que o preconceito diz mais respeito às necessidades do preconceituoso do que às características de seus objetos, pois cada um desses é imaginariamente dotado de aspectos distintos daquilo que eles são.” (CROCHIK, 2006, p. 13-14)
Esses impulsionamentos possibilitam a grande abertura à existência do preconceito, ao conhecimento sensível, porém, esse só será combatido pelo conhecimento verdadeiro, o qual, para Descartes, se possibilitará na busca pelo conhecimento puramente intelectual. Entretanto, para tal, é necessário um “Incansável trabalho de distanciamento reflexivo, a análise filosófica exige colocar nosso espírito ‘à espreita’, atento àquilo que lhe é apresentado para exame e também pronto a discernir seus próprios subentendidos.” (ARONDEL-ROHAUT, 2005, p. 6). Certamente o oposto disso ocorre quando o preconceito permeia pensamentos e atitudes.
O conceito de preconceito não está inserido simplesmente em uma discussão específica ou em uma ciência única. O preconceito, além de estar no âmago psicológico e se apresentar como uma construção sociológica também traz construções diferenciadas a cada contexto preconceituoso.
No contexto psicológico, partindo do cerne do indivíduo, não seria possível a existência das interioridades caso essa não se contraponha à exterioridade, mas não simplesmente se contrapondo e sim “uma interioridade que surge a partir desse mesmo exterior, o que implica que o indivíduo é produto da cultura, mas dela se diferencia por sua singularidade. Quando o indivíduo não pode dela se diferenciar, por demasia identificação, torna-se o seu reprodutor, sem representar ou expressar críticas que permitiriam modificá-la; se o indivíduo somente se contrapõe a ela, não se reconhecendo nela, coloca a própria possibilidade da cultura em risco.” (CROCHIK, 2006, p. 15)

O preconceito é um mecanismo muitas vezes desenvolvido pelos indivíduos na busca da dicotomia e na diferenciação entre o bem e o mal, ou até mesmo que se apresente aos que se defendem de ameaças imaginárias, bloqueando a visão da realidade, tornado- a falsa ou deficitária por algo que lhes foi impedido de enxergar ou que contém elementos que gostariam de ser ou ter para si mas que se veem obrigados a não ser ou ter. (FREUD apud CHAUÍ, 2003)

Profissões excluídas
“Na relação entre a identificação de características do preconceituoso e a diversidade de conteúdos que percebe em suas vítimas, apresenta-se na base, a relação entre indivíduo e sociedade. Isto porque a fixidez de um mesmo tipo de comportamento se relaciona com estereótipos oriundos da cultura, que embora se diferenciem em diversos objetos que tentam expressar, não se confundem com eles; é dizer: à diversidade com que a roupagem dos estereótipos culturais reveste os seus objetos, corresponde a uma fixidez de comportamento no preconceituoso. Essa relação não é direta, pois o indivíduo se apropria dos estereótipos e os modifica de acordo com as suas necessidades; contudo, as ideias sobre o objeto do preconceito não surgem do nada, mas da própria cultura.” (CROCHIK, 2006, p. 14).
Entretanto, no contexto da formação de grupo e nos posicionamentos históricos e culturais não se pode trazer contratempos e afirmações a respostas sociológicas não plausíveis com um Determinismo Geográfico, afinal, o local que estamos inseridos não determina a maneira que somos, assim, a cultura daquele local pode simplesmente INFLUENCIAR o modo de agirmos e pensarmos. É nesse parâmetro que os conceitos formados socialmente podem ser respondidos de uma maneira exclusiva e problemática socialmente; é nessa influência de formação cultural que muitas vezes ocorrem frutos preconceituosos que podem ser passados de geração para geração, ou até, pensando em um patamar positivo, combatidos após alguma transformação reflexiva. Porém, ainda não é o que ocorre com relação aos preconceitos aos que pensam filosoficamente.
Por fim, posteriormente aos apontamentos psicológicos e sociológicos, até o conteúdo do preconceito se diferencia de objeto para objeto, o que acaba tornando difícil a concretização do conceito como algo objetivo e exato. Portanto, as maneiras que se enxergam os que sofrem preconceitos se diferenciam entre os tipos de preconceitos e de preconceituosos: o que os preconceituosos percebem no deficiente físico não é o mesmo que percebem nos negros, nos judeus, nos “catadores de lixo”, em profissões excluídas socialmente, nas mulheres, etc.
Mais precisamente com relação a algumas profissões excluídas socialmente, portanto suscetíveis a preconceitos, os filósofos atualmente são pessoas que muitas vezes são taxadas à realização de simplesmente NADA. Isso porque, no mundo fordista que vivemos, o que se fundamenta nas explicações do materialismo histórico definido por Karl Marx, fazer algo que possua valor social é elaborar coisas materiais, algum elemento concreto, que tenha valor de troca, que seja palpável, um objeto em si, algo que se concretize, o que normalmente não está no dia a dia da realização dos filósofos, os quais têm como base principal e fundamental a reflexão, algo impalpável, e certamente por ser impalpável que muitas vezes é taxada como desnecessária, sem valor e incabível, assim com dizem popularmente: o Ócio – com a significância do senso comum.
Materialismo Histórico
As relações de classe estão pautadas pelas forças produtivas e consequentemente pelos modos de produção, o que acaba consolidando as relações capitalistas. “0 modo de produção feudal é o fato positivo, a afirmação, mas já traz dentro de si o germe de sua própria negação: o desenvolvimento de suas forças produtivas propicia o surgimento da burguesia. À medida que estas forças produtivas se desenvolvem, elas vão negando as relações feudais de produção e introduzindo as relações capitalistas de produção. A luta entre a nobreza e a burguesia vai se acirrando; em um determinado ponto deste desenvolvimento ocorre a ruptura e aparece o terceiro elemento mais desenvolvido, que é modo de produção capitalista. É, portanto, a luta entre as classes que faz mover a História.’’ (SPINDEL, A. 1987, p. 39.)
Neste contexto fordista, as dúvidas, as indagações e os questionamentos não são bem vistos, pelo contrário, trazem margem ao erro. E é neste contexto que se promove o preconceito da não coisificação instantânea do pensamento.
Grande paradoxo do destino dos preconceituosos... Filosofar é exatamente duvidar, contradizer, discutir, refletir na tentativa de buscar uma maior proximidade à realidade límpida, colocando à prova os patamares impostos socialmente, bloqueando as submissões, os abusos, as atrocidades aceitas socialmente. Portanto, quanto mais preconceito ao âmago filosófico, mais condenado está a se submeter ao topo da hierarquia social. Afinal, atualmente para se diferenciar da maioria não é necessário ter dinheiro, mas sim grandes ideias, certamente alguém as financiarão.
Por fim, para concluir, se você respondeu SIM ao primeiro parágrafo, meus parabéns! Para CHOCHIK, você é um indivíduo que coloca sua cultura em risco. Assim, não é um mero reprodutor de realidades falsas ou bloqueadas, mas sim uma pessoa que possibilita transformações, quebras e mudanças. Cabendo ressaltar que somente aquele que “fala, fala e não diz nada” que poderá promover transformações que mudarão o rumo histórico da sociedade mundial.
“Nenhum povo pode libertar-se e autodirigir- se desconhecendo sua verdadeira história. Ainda que existam períodos de obscurantismo na vida dos povos, a humanidade vem-nos ensinando, através de milênios, que muitos povos construíram os alicerces de sua libertação sob o mais severo dos cativeiros. A alavanca promotora da libertação apoiase no conhecimento crítico da história que gerou e que alimenta as forças opressoras.” (AZEVÊDO, 1990, p. 55)
Dessa maneira, quem sabe um dia as transformações ocorrerão e tanto a sociedade quanto a formação do indivíduo verá que o pensar filosoficamente é um dos caminhos para se chegar ao início da busca pelo fim da cegueira social. Esse é um dos parâmetros para a reflexão de vários preconceitos, das diferenciações dos pré-conceitos, dos estereótipos, e pela busca de uma sociedade mais reflexiva, pautada em análises históricas, comparações plausíveis e conclusões coerentes, não esquecendo da flexibilidade eterna.
*Tatiana Martins Alméri é Socióloga, formada pela UFSC, mestre em Sociologia Política pela PUC-SP e integrante do corpo docente da Unip e da Fatec (taalmeri2@hotmail.com)

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Projeto: Mais Conhecimento, Menos Preconceito

Clique nos links abaixo e faça download dos formulários para a elaboração da 1ª Etapa do trabalho:



PRIMEIRA ETAPA DO PROJETO

Tema: Uma visão geral sobre o preconceito na região metropolitana do Vale do Aço

Grupos de, no máximo, 6 componentes
Público alvo: Homens e mulheres acima de 16 anos.
Data da pesquisa: mês de setembro

Grupos de, no máximo, 6 componentes

Data de entrega dos resultados/relatório:

Dia 23/9/2013 (Segunda-feira) - Turmas: 302-303-305-306-307
Dia 24/9/2013 (Terça-feira) - Turmas: 206-210-304-308
Dia 26/9/2013 (Quinta-feira) - Turmas: 108-109-110-111-201-202-203-204-205
Dia 27/9/2013 (Sexta-feira) - Turmas: 207-208-208-301-309

Pesquisa de Opinião
O que é Pesquisa de Opinião?
Como seu próprio nome deixa claro, uma pesquisa de opinião realiza o levantamento da opinião coletiva de uma população acerca de determinado tema analisando uma amostra de opiniões individuais obtidas através de coleta de dados. Levantar a opinião coletiva é explicitar as principais ideias que a população emitiu acerca de determinado tema. 
O levantamento da opinião coletiva se torna ainda mais complicado quando se sabe que as pessoas individualmente podem mentir nas entrevistas, procurando responder não o que pensam sobre determinado tema, mas sim o consideram "politicamente correto" aos olhos da sociedade em geral. 

• O que queremos saber? 
O que as pessoas da nossa região pensam sobre temas complexos e que muitas vezes são alvos de ideias preconcebidas.

• O que já sabemos sobre o assunto? 
Sabemos que muitas pessoas têm opiniões formadas sobre determinados assuntos através de ideias preconcebidas. Tais opiniões geralmente são traduzidas em forma de intolerância, críticas, violência.
- Conviver com o diferente não é uma tarefa fácil.
- Quando desconhecemos sobre um determinado assunto ou tema, uma das primeiras reações que tomamos é a de repúdio.
- O conservadorismo exagerado, por vezes esconde nossa incapacidade de lidar com situações diversas, novas.

• Que tipo de dúvidas pretendemos esclarecer com a realização dessa pesquisa? 
Por vezes pensamos que a maioria das pessoas pensam como nós. Seria isso a realidade? Para entender a questão do preconceito devemos percebê-lo em suas diversas formas e principalmente sua presença velada nas pequenas atitudes cotidianas.

• Quais são os vários aspectos do problema ou os subtemas relacionados ao tema principal? 
Como preconceito é um tema amplo e complexo, o dividiremos por áreas ou subtemas:
- Preconceito racial
- Preconceito sexual
- Preconceito social
- Preconceito religioso
- Preconceito relacionado a deficiências e patologias
- Preconceitos variados

• O que será feito com os resultados? 
Os resultados embasarão aulas sobre o tema e será utilizado na elaboração de um documentário elaborado pelos alunos da escola.

• Para quem serão divulgados? 
Os resultados serão divulgados para a comunidade escolar, nos meios de comunicação (Jornais, Tv...), para a comunidade acadêmica da região.

1ª ETAPA: PESQUISA DE OPINIÃO
COLETA DE INFORMAÇÕES

Regras Gerais da Primeira Etapa: Pesquisa de Opinião

SOBRE O RELATÓRIO

01- O grupo deverá baixar o Relatório do trabalho e preenche-lo devidamente e entregar ao professor na data estipulada.

02- Não serão aceitos, para fins de avaliação, os relatórios entregues em datas posteriores ao prozo final de entrega.

03- O relatório deve conter:
- nomes dos componentes, turma (preenchidos nos lugares preestabelecidos);
- dados obtidos no questionário;
- pequeno relatório da realização do trabalho, contendo datas e locais das entrevistas, além de observações, comentários sobre o trabalho, reação e acolhida das pessoas entrevistadas, dentre outros aspectos;
- assinatura de todos os membros participantes do grupo garantindo a veracidade das informações apresentadas no relatório e o cumprimento das regras do trabalho.

SOBRE A PESQUISA DE OPINIÃO

04- O público alvo da pesquisa são jovens e adultos, acima de 16 anos. Recomenda-se a não realização do questionário com pessoas menores do que a idade acima estipulada.

05- Cada grupo entrevistará, no mínimo, 50 (cinquenta) pessoas.

06- As entrevistas deverão ser realizadas na cidade de Ipatinga, podendo ser estendida às demais cidades da região do Vale do Aço (desde que devidamente identificado no Relatório Final).

07- Não é permitido à mesma pessoa responder o questionário mais de uma vez. Recomenda-se ao grupo perguntar, inicialmente, se a pessoa já foi entrevistada por outro aluno da escola com o mesmo questionário.

08- Por apresentarem similaridade nas respostas, é recomendado não entrevistar mais de uma pessoa por casa/família.

09- Cada pessoa entrevistada deve responder a TODAS as perguntas do questionário (40 questões).

10- Cada entrevistado deverá apenas responder SIM ou NÃO às perguntas. Não é preciso justificar as respostas.

11- Caso a pessoa tenha dúvidas a cerca da questão ou não queira opinar, deverá ser marcada a opção NÃO SOUBERAM OU NÃO OPINARAM.

12- Leia com agilidade todas as questões para o entrevistado. Recomenda-se, para evitar que haja influência na resposta, que o entrevistado não veja o questionário.

13- Não é permitido entrevistar mais de uma pessoa ao mesmo tempo.

14- Se por algum motivo ou imprevisto a pessoa não terminar de responder todas as questões do questionário, o grupo deverá apagar as respostas dadas ou (caso não lembre mais) marcar nas questões seguintes NÃO SOUBERAM OU NÃO OPINARAM.

SOBRE A ABORDAGEM DE RUA

15- Não abordar as pessoas na rua com todos os membros do grupo reunidos. Recomenda-se abordar em dupla ou individual.

16- Seja educado(a), cumprimente o entrevistado (Olá, bom dia, boa tarde, boa noite).

17- Identifique-se, diga seu nome e o nome da escola. (Ex.: Me chamo fulano, sou aluno da Escola Estadual João XXIII...)

18- Explique a natureza do trabalho. (Ex.: Estou realizando um trabalho de Pesquisa de Opinião...)

19- Não diga ao entrevistado que o tema da pesquisa é sobre PRECONCEITO, isso evitará que ele possa direcionar suas respostas para não aparentar ser preconceituoso. Diga que o questionário é sobre:
- Temas diversos
- Situações do cotidiano
- Opinião em assuntos que ocorrem no dia a dia.

20- Pergunte se a pessoa tem um tempo disponível para responder às perguntas do questionário (em média, 5 a 10 minutos).

21- Pergunte à pessoa se ele já respondeu a algum questionário semelhante com outro aluno da escola. Caso a resposta seja afirmativa, agradeça a ajuda e não realize a entrevista com essa pessoa.

22- Alerte ao entrevistado que não será anotado seu nome ou qualquer identificação pessoal.

23- Peça ao entrevistado que seja o mais sincero possível nas respostas.

24- Explique que em cada pergunta só há duas opções de resposta, SIM ou NÃO, e que não é necessário que justifique suas respostas.

25- Após o termino da ultima pergunta, agradeça ao entrevistado a ajuda. Despeça-se educadamente.

26- Na ultima folha do questionário, anote o gênero do entrevistado anterior (se Homem ou Mulher). Tais números devem ser contidos no relatório final, junto com o número total de pessoas entrevistadas.

27- Identifique, na ultima folha do questionário, para fins de elaboração do Relatório Final, as datas e locais das entrevistas, como possíveis ocorrências no decorrer da realização da atividade.

QUESTÕES DE SEGURANÇA

28- Recomenda-se a realização das entrevistas durante o dia (em turno matutino ou vespertino), no bairro onde o aluno reside, ou em bairros próximos.

29- Em entrevistas de rua, recomenda-se ir sempre em duplas e em locais de grande movimentação de público.

30- Evite entrevistar pessoas que estejam em aparente estado ébrio (bêbadas, ou sob uso de drogas).

AVALIAÇÃO E PUNIÇÕES

31- As somas de todas as respostas (SIM, NÃO, NÃO SOUBERAM OU NÃO OPINARAM), em cada uma das quarenta perguntas, devem ser iguais ao número total de pessoas entrevistadas.

32- Erros de soma poderão ser entendidos como falseabilidade de dados e o trabalho poderá ser anulado e não avaliado pelo professor.


33- Caso seja descoberto que os dados obtidos, na verdade, foram criados/inventados pelos membros do grupo, o trabalho será anulado e haverá decréscimo na nota final de todas as demais etapas do trabalho.

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Ser humano soberano, perigoso e maquiavélico

A identidade vestiu o homem de tal forma que ele já não se reconhece como animal. Logo, o outro passou a ser, a seus olhos, um estranho e isso legitimou a vontade do homem querer reinar sobre o diferente e se sentir soberano.
Imagem: Shutterstock
É possível dizer que o que separa o ser humano do ser animal é uma película tênue tecida na trama cultural. Mas o que é ser um animal e ser humano na sociedade? Como fala Jacques Derrida (1930 - 2004) em seu livro o Animal que logo sou¹, em síntese, humano é uma identidade que subordina aquele que aos olhos dele se torna, de imediato, um animal. Humano é uma primeira identidade que afasta o homem de sua natureza animal. O faz esquecer que é um ente da natureza comum. O humano pode ser pensado como capital ao mesmo tempo em que é alma capitalizada e, talvez, capturada pelo desejo de poder. Nessa relação que institui quem é humano e quem é animal sem se dar conta que o humano é um animal tão semelhante ao animal que o olha, o humano se de ne soberano. Como dizia Jacques Derrida2 (1930-2004) nessa cena primitiva de um teatro insensato, aquele que é chamado de animal se torna completamente o outro ao meu olhar.
¹2011a 

²Ibid.

Com Derrida é possível entender que a identidade do "humano" é um termo que, na maioria das vezes e em inúmeras situações, faz o homem se colocar como superior a outras formas de vida. Antes de qualquer consideração biológica sobre o ser humano, é possível entender o ser humano como uma identidade que emana poder e vê em qualquer dessemelhança uma vida inumana.


Eduardo de Campos Garcia é doutorando e mestre em Educação, Arte e História da Cultura pelo Mackenzie. Especialista em Libras pela FIJ. Especialista em Mes pela PUC-SP. Graduado em Pedagodia pela UNIG e em Letras pela UBC/MC-SP. Atualmente é professor pesquisador do departamento de Educação da UNINOVE



Ser humano pode ser uma verdade biopolítica que institui o outro como um inumano dentro das relações sociais. O ser humano, enquanto ser, possivelmente, foi aquele que racionalizou seu modo de viver e por esse motivo passou a existir historicamente. Ele registra suas memórias e manipula seus registros. No entanto, é com Jacques Derrida em seu livroGramatologia³ que se pode interpretar que tudo não deve ser pensado de uma só maneira. Partindo dessa interpretação, as verdades poderiam ser questionas criticamente sempre. Descer por goela abaixo como alimento que sustenta e basta, em muitos aspectos, é viver no preconceito sem se dar conta. Segundo Derrida, as escrituras - ou seja, as simbologias criadas discursivamente - são abertas pela exposição de um projeto classi catório e sistemático. Logo, nossa identidade "humana" pode ser considerada como dispositivo de um sistema fechado e poderoso.
32011b
Imagem: Shutterstock

DIÓGENES de Sínope é o mais folclórico dos filósofos. Mendigo, fez da pobreza uma virtude. Dizse que vivia num barril e carregava uma lamparina, procurando um homem honesto. Pela forma como vivia, era conhecido comokinos, o cão. Apesar de atacar os valores gregos, suas ideias foram disseminadas pelo mundo


Imagem: Shutterstock
O filósofo Michel Foucault abordou a questão do discurso em seu livro As palavras e as coisas. Na obra, o autor ressalta que o mundo é um entrelaçamento de marcas e palavras, o que significa que o nosso "mundo de verdades" é simbólico, porque pensamos simbolicamente
Para entender melhor sobre sistema identitário pode-se recorrer a Kathryn Woodward em seu texto Identidade e diferença: uma introdução teórica e conceitual4. Para ela, a identidade envolve reinvindicações essencialistas sobre quem pertence e quem não pertence a um determinado grupo, nas quais a identidade é vista como xa e imutável. Por meio dos escritos de Woodward é possível concluir que o humano, como identidade do ser, foi coagulado5.
4 2009
Nesse sistema, a identidade coagulada do humano decide no lugar do outro, que considera inumano, quem pode falar de si. O humano é aquele que institui o discurso como meio de persuasão. Para Woodward, os discursos e os sistemas de representação - identidades - constroem os lugares a partir dos quais os indivíduos podem se posicionar e a partir dos quais podem falar.
Michel Foucault (1926-1984) em A ordem do discurso6 já dizia que o discurso não é simplesmente aquilo que traduz as lutas ou os sistemas de dominação, mas aquilo pelo que se luta, o poder do qual nos queremos apoderar. Nessa ordem, o discurso se materializa e com ele todo um sistema que prescreve e de ne entra em cena.
5O termo coagulado usado aqui tem como referência o texto de Jürgen Habermas O futuro da natureza humana (2010).
6 2009
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A relação que define quem é humano e quem é animal não leva em consideração que o humano é um animal tão semelhante ao animal que o olha, o humano se define soberano, para corroborar seu desejo de poder. Como diz Derrida, "é uma cena primitiva de um teatro insensato"
Na medida em que o ser se autoidenti ca como humano e socializa essa certeza, dissemina seu discurso de convencimento para que se massi que. Ser humano não seria um problema se, de imediato, seu signi cado não fosse a materialidade pelo discurso de que os humanos são os únicos dignos de poder.
Para Michel Foucault, em As palavras e as coisas7, por meio do discurso há um desenrolar dos signos verbais pelos quais permanece a representação simbólica, apagando a verdade primeira. É possível entender que Foucault sinaliza para o poder que o discurso tem de anular o estado bruto das coisas. O discurso faz prevalecer o ato simbólico sobre o objeto. Foucault alerta que o mundo é um entrelaçamento de marcas e palavras. Isso signi ca que o nosso "mundo de verdades" é simbólico porque pensamos simbolicamente. O mundo e todos os valores que o compõem como verdadeiro, inclusive a identidade humana, na medida em que nossos olhos o contemplam, estará cheio de simbologia.
7 2010
Dentro da simbologia que nos cabe, somos para o outro o discurso no qual nos encaixamos. Seremos avaliados segundo o discurso que nos é oferecido como verdadeiro. Portanto, ser humano é ser um animal discursivo que materializa seu poder e hierarquiza pela materialidade. Coagula sua verdade.

A HIERARQUIA PARA EXISTÊNCIA

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Jacques Derrida deixa claro que a identidade do "humano", na maioria das vezes e em inúmeras situações, faz o homem se colocar como superior a outras formas de vida. É possível entender o humano como uma entidade que dissemina poder e vê em qualquer diferença uma vida inumana.


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Para Kathryn Woodward, a identidade de uma pessoa envolve reivindicações relacionadas à doutrina filosófica essencialista
Se o ser humano é um ser discursivo, na medida em que constrói seus discursos de verdade8 para edificar uma hierarquia, possivelmente materializará uma relação antagônica e antitética. Como postulava Michel Foucault em A arqueologia do Saber9, o discurso é aquilo pelo qual se descreve o objeto e o identifica, o nomina e por isso possui o domínio da memória. Jacques Derrida diz que no gesto de seus discursos institui-se o próprio do homem, a relação consigo mesmo de uma humanidade antes de mais nada preocupada com seu próprio e ciumenta em relação a ele. É possível entender que na ordem do domínio social, o objeto simbólico "humano" se autoidentifica como aquele que deve ocupar o topo de uma hierarquia de poder. É egoísta em relação ao outro que observa como menos humano.
8O termo discurso de verdade foi usado por Foucault em seu livro Microfísica do Poder (1979).

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SOMOS PARA O OUTRO O DISCURSO NO QUAL NOS ENCAIXAMOS. SEREMOS AVALIADOS SEGUNDO O DISCURSO QUE NOS É OFERECIDO COMO VERDADEIRO. SER HUMANO É SER UM ANIMAL DISCURSIVO

Homossexuais e preconceito
Os homossexuais, historicamente, são vítimas de preconceito e reações violentas, considerados muitas vezes, na prática, como seres inumanos. Este estigma e a consequente perseguição não oferece trégua. Um dos exemplos mais marcantes de que o tema continua atual é a posição da igreja Assembleia de Deus Vitória em Cristo, comandada pelo pastor Silas Malafaia, que conta com milhões de seguidores.
Malafaia costuma protagonizar intensas polêmicas ao envolver a questão da intolerância. Em 2006, foi o responsável por uma manifestação em frente ao Congresso Nacional contra a lei que criminalizava a homofobia. O pastor afirmou que os relacionamentos entre pessoas do mesmo sexo são a porta de entrada para a pedofilia. "Deveriam descer o porrete nesses homossexuais", disse.
Recentemente, Malafaia voltou a demonstrar que a posição de sua igreja abusa do direito de discriminar, pregando superioridade sobre os chamados diferentes: "Se tiver pastor homossexual, perde o emprego", afirmou.
Formado em Psicologia, por mais paradoxal que pareça, o pastor assegura que a homossexualidade "é um comportamento", que pode ser mudado. "Ninguém nasce gay. Não existe ordem cromossômica homossexual. Não existe gene homossexual". E faz uma comparação, no mínimo, infeliz: "A mãe de um bandido ama profundamente o filho, mas pergunte se ela concorda com aquilo que ele faz? Eu amo os homossexuais como amo os bandidos e os assassinos", declarou.

INUMANO ANIMAL

Os inumanos em uma possível hierarquia da existência, de imediato, podem ser os animais. Há muito tempo o ser humano declarou sua superioridade em relação à vida animal e se achou no direito de maltratar e fazer uso em pesquisas cosméticas e farmacológicas. Em algumas ações, há maldade gratuita e sem causa.

No Brasil ainda se permite experimentos com espécies animais pelas quais a prática da vivissecção e da eutanásia são permitidas10. No passado, a prática da vivissecção era ensinada na escola. Rãs ou sapos eram abertos, ainda vivos, com muita normalidade, para que alunos analisassem os batimentos cardíacos. Nessas práticas, o outro - aquele declarado como animal - acaba sendo apenas um objeto.
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No Brasil, ainda se permitem experiências com espécies animais, pelas quais as práticas da vivissecção e da eutanásia são aceitas
Não são apenas os animais as vítimas de uma desquali cação por aqueles que se autodeclaram seres humanos superiores. Entre os humanos, existem os que foram vistos e catalogados como espécies inumanas e primitivas, monstruosidades indignas de viver e consideradas dignas de extermínio. Em muitos momentos, os "inumanos" foram objetos da medicina. Cabe lembrar que, até os dias atuais, o corpo dos indigentes é o objeto, permitido por lei, para estudos clínicos. Este fato, obviamente, não é um posicionamento crítico tampouco uma colocação contraria às necessidades dos estudos clínicos. É apenas uma observação. Dado que o corpo do humano de um homem possuidor de uma família, economicamente abastado, trabalhador, não será, na maioria dos casos, dissecado como objeto de estudo. No entanto, o indigente, alguém desaparecido do quadro civilizatório, um "inumano", torna-se objeto para a Ciência. Ser simbolicamente inumano é viver suscetível à verdade do dominador. Mesmo porque o homem indigente, simbolicamente inumano, vive, muitas vezes, como um animal. O indigente-marginalizado come do lixo produzido pelos humanos como os gabirus11, dorme nas ruas feito cão, e toma posse de coisas descartadas pelos humanos capitalizados. Os "inumanos" que habitam as ruas são, em muitos momentos, o re exo do que se denomina primitivo e monstruoso. Sua dor, seus medos e angústias, para muitos "humanos", não incomoda.
10Cf: Lei Federal nº 6638 de 08/05/1979

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OS "INUMANOS" QUE HABITAM AS RUAS SÃO, EM MUITOS MOMENTOS, O REFLEXO DO QUE SE DENOMINA PRIMITIVO. SUAS DORES, MEDOS E ANGÚSTIAS, PARA MUITOS "HUMANOS", NÃO INCOMODA


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UMA DAS principais atrocidades cometidas pelo nazismo foram os experimentos em cobaias humanas. As experiências resultavam em morte, desfiguração ou incapacidade permanente. Eram vítimas os judeus, ciganos, homossexuais, comunistas e pessoas com deficiência mental, considerados vidas sem valor


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Em muitos momentos e através dos tempos, não são apenas os animais que são considerados inumanos, sendo, inclusive, objetos da medicina. A prova é que, até hoje, o corpo dos indigentes é utilizado para inúmeros estudos clínicos, fato permitido pelas legislações de muitos países
PERIGOS DO SIMBOLICAMENTE INUMANO
Como exemplo dessa barbárie que se inicia por meio de uma construção cultural e identitária, é possível relembrar algumas narrativas históricas que transformaram alguns humanos em seres inumanos.

11Cf: Homem Gabiru: catalogação de uma espécie (PORTELLA, 1992).
Na história dos surdos, por exemplo, como relata Sergio Andrés Lulkin em seu texto O discurso moderno na educação dos surdos: práticas de controle do corpo e a expressão cultural amordaçada 12, o surdo era visto como um ser primitivo semelhante ao homem da caverna e por esse motivo digno de ser experimentado pela Ciência. O Dr. Jean Marc Gaspard Itarde, médico do INJS (L'Institut National de Jeunes Sourds) de Paris no século XIX causava feridas, inchaço e cicatrizes em torno das orelhas de muitos surdos. Alguns surdos iam a óbito em nome de uma pseudociência. O direito a experimentação do ser humano ouvinte ao corpo do surdo se deu porque os surdos eram considerados menos humanos que os ouvintes, eram entendidos como seres primitivos. A soberania, que se acreditava existir dos ouvintes sobre os surdos, reduzia a vida dos surdos a uma manipulação cientí ca que, em muitos momentos, anulava a vontade do próprio surdo, eviscerava-lhe o direito de escolha. O anulava.
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Até mesmo no cinema, há inúmeros exemplos de casos representados como monstruosidades, como gêmeas siamesas, anões e amputados. Eram considerados aberrações da natureza e, em consequência, inumanos. E isso aconteceu há não muito tempo, ou seja, no início do século XX
Recentemente, uma produção cinematográfica13 intitulada Venus Noire14, do diretor Abdellatif Kechiche, traz ao grande público a história de uma mulher negra que por sua anatomia passa de "animal de circo" a objeto da Ciência. A mulher hotentote, como era apresentada, era usada como objeto, desprovida de si para viver segundo o olhar do outro que a sujeitava à inumanidade. Jean-Jaques Courtine em seu texto O corpo anormal15 relata que microcephalus, anões, homem-elefante, mulher-camelo, eram formas teratológicas que des lavam nos "entre-sorts" europeus. Tod Browning (1880 - 1962), em seu lme Monstros16, traz à superfície da tela de Cinema uma gama do que a Ciência chamou, no inicio do século XX, de monstruosidades humanas. Gêmeas siamesas, anões, amputados, são algumas formas físicas de atores que representam os "freaks". Para o Cinema, estranhas monstruosidades, para a Ciência, aberrações da natureza, e para a sociedade, inumanos, provavelmente. Para os próprios freaks, eles eram semelhantes.



Hitler, em seu Estado comandado por ideias fascistas, enxergava os judeus e as pessoas com de ciência como seres inumanos, indignos de vida, uma degenerescência da espécie. Bancados pelo instituto Norte-Americano Rockefeller, algumas experimentações com seres humanos eram possíveis quando esses fossem diagnosticados como inumanos. Como conta John Cornwell em Os cientistas de Hitler: ciência, guerra e o pacto com o demônio17, para a Ciência nazista de Hitler, judeus, ciganos, untermenschen, retardados, homossexuais e os que sofriam de doenças incuráveis eram vidas sem valor, essencialmente inumanos. Ainda nessa mesma linha de pensamento é possível relembrar a história sobre os negros no Brasil, a história das mulheres lobotomizadas, os transexuais, os cegos, as crianças Down e todos aqueles que, em determinado período, foram catalogados pela Ciência como inumano. É preciso pensar sobre o valor de se autodeclarar humano e o poder que essa identidade nos atribui quando acreditamos nela. Mesmo porque o homem, esse ser que se autodeclara humano, subordinou a sua racionalidade toda espécie que foi condenada a viver como inválida, indigna e inumana. É perigoso ser humano quando não se vê no espelho que o re ete a semelhança animal que há em cada um. Não foi à toa que São Francisco de Assis, no século XII, se relacionava com tudo que emanava vida e a sustentava, como irmão18. Ainda que não se diga, somos todos derivados de uma mesma substância atômica, combinada e recombinada na formação do que se pode ser.
13Para o lósofo tcheco Vilém Flusser (2009), o Cinema é um aparelho e as imagens transformam conceito em cena

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O HOMEM SUBORDINOU A SUA RACIONALIDADE TODA ESPÉCIE QUE FOI CONDENADA A VIVER COMO INVÁLIDA. É PERIGOSO QUANDO NÃO SE VÊ A SEMELHANÇA ANIMAL QUE HÁ EM CADA UM


O PRÍNCIPE DE MAQUIAVEL SE METAMORFOSEOU EM HUMANO
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Uma produção cinematográfica recente, dirigida por Abdellatif Kechiche e intitulada Venus Noire, conta a história de uma mulher negra, que, graças à sua anatomia, passa de "animal de circo" a objeto da Ciência, mais um exemplo de como o ser humano usa seu poder para revestir o outro de inumanidade


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Na história do Brasil, há um exemplo clássico da linha de pensamento que classifica humanos como inumanos: trata-se da trajetória do negro, escravizado durante várias décadas, e que, até hoje, é perseguido por preconceitos e situações de violência em função de sua etnia
Em síntese, O príncipe, de Nicolau Maquiavel (1469 - 1527), no qual um absolutismo impera em nome do poder que atua como Estado soberano e por esse motivo "os fins justificam os meios", pode ser comparado com a moderna identidade humano. Ser humano, em muitos momentos, justifica qualquer administração da vida inumana a favor do seu governo absoluto e dominador. O príncipe pode representar a materialidade do que se vê como verdade quando se domina o outro e o detém como subordinado eterno. Exerce-se sobre ele o poder de vida e morte a favor de si. Ainda que se acredite que os anteprincípios abordados por Maquiavel em O príncipe estejam distantes do homem comum e próximos da Política do Estado atual, a personagem possivelmente é mais presente nas ações humanas do que se pode imaginar. Mesmo porque à medida em que a identidade humana me torna príncipe do reino humano, a subordinação do inumano passa a ser fruto da realeza que simbolicamente passa a existir. Infelizmente ainda existem muitas formas de vida que, ao serem olhadas pelo príncipe humano, se esvaziam. O príncipe se sente soberano pela hereditariedade do sangue que o consagra. Os "inumanos" nascem, dentro do discurso do príncipe, subjugados à mercê da exclusão. No entanto, cabe pensar: hoje príncipe, amanhã inumano. Vítimas de uma queda financeira que qualifica a marginalidade. Muitas vezes, só se sente a dor do outro quando o outro passa a ser o lado que se habita e de onde se olha. Mudar o olhar, porque todos são essencialmente animais, ainda que se negue, essa é a natureza mais verdadeira. Talvez seja preciso, para não cometer os erros do passado, deixar o príncipe metamorfoseado de lado, para se ficar um humano nu. Como dizia Jacques Derrida, é próprio dos animais estarem nus sem o saber. Eles não estariam nus porque são nus. Nenhum animal jamais imaginou se vestir. Logo, pelo que disse Derrida, é possível imaginar que o homem é um ser animal que se vestiu da identidade humana para se tornar príncipe de si mesmo e com seu poder dominador e discursivo, dominar aquele que considera nu dessa identidade vazia19. Afinal, o inumano, quando assim olhado, teme, sofre, cai, chora, é fruto de um sistema que não o acolhe, é corpo capital, é exemplo de desgraça. Vivencia o dó no olhar, o nojo e desprezo na ação do humano, é excluído pelo olhar e sofre a todo instante uma violência simbólica20. O "inumano" atravessa a rua, pode ser vizinho simbolizado, mas passa despercebido aos olhos do soberano príncipe do Estado, humano. Porque esse se convenceu que é soberano e vestido de si. Seria ético repensar o que significa ser humano. |filo
18 Informações baseadas no lme Irmão sol, irmã lua, de Franco Ze relli (1972).
19O termo identidade vazia foi usado por Michel Foucault em Microfísica do Poder (1979).
20 Termo usado em Filoso a Pop (Tiburi 2011).

Texto Retirado da Revista Filosofia - Ciência & Vida

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O desafio de amar

Segundo Bauman, nossa sociedade vive o fenômeno da "multidão solitária" em que as pessoas convivem lado a lado, mas dificilmente aprofundam contatos, o que torna cada vez mais raro o relacionamento genuíno entre dois indivíduos.

Renato Nunes Bittencourt | IMAGENS: WIKIMEDIA/SHUTTERSTOCK

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Desde as suas origens gregas, a tradição filosófica jamais deixou de problematizar a questão do amor; tema de suma importância em nossa história intelectual. No Banquete de Platão, a experiência do amor se constitui como um processo de elevação do particular ao universal; do apego ao sensível ao processo de emancipação rumo ao plano abstrato-inteligível, em uma lenta gradação mediada pela contemplação do Belo. Inicialmente o amante é atraído pela beleza física do ser amado. No segundo passo, a consciência do amante se amplia e este passa a buscar o mesmo princípio de beleza em todos os seres humanos, buscando assim todas as formas belas: “Eros impele o desejo de um belo corpo a outro e, finalmente, para todos os belos corpos. Pois a beleza existente num determinado corpo é irmã da beleza que existe em outros. Seria grande demonstração de insensatez não considerar como uma única e mesma coisa a beleza que se encontra em todos os corpos”1.
O terceiro passo consiste no amor pela beleza da alma, independente da forma física à qual ela está associada. O quarto passo consiste no amor pelas práticas belas, de modo que a alma ama os ofícios e as leis, essencialmente belos. Tal nível de amor conduz ao degrau número cinco, referente ao amor pelas instituições belas, regidas pela justiça. Trata-se do amor pelo governo, pela cultura e por todas as instituições promotoras da harmonia. Nesse quesito, o bem comum é o interesse primordial. Desse ponto, a alma ascende para o sexto degrau da escada do amor, em direção ao universal e ao abstrato do plano da episteme, ou seja: conhecimento puro e compreensão das essências; nessa etapa a alma é associada ao amor por meio do saber, caracterizando assim a própria atividade losó ca. No sétimo degrau encontramos a própria Ideia de Amor, pois a alma ama o Belo em si mesmo. Nessa categoria podemos estabelecer uma interpretação de cunho religioso, defendendo a hipótese de que se trata do amor ao Divino, caracterizando-se como uma vivência extática 2.

Quando atingidas pelas flechas atiradas por Eros, o deus do amor, as pessoas se apaixonam perdidamente. A obra Jovem defendendo-se de Eros de Bouguereau (1825-1905) retrata uma jovem tentando se defender do amor, comportamento bastante comum em nossa sociedade
A vivência do amor genuíno se enraíza através da a rmação da alteridade, capacidade de se compreender a interioridade do outro; o amor é, assim, uma experiência que preconiza a intersubjetividade, comunicando-se então os afetos de pessoa para pessoa. Para Erich Fromm (1900- 1980), “se eu amo o outro, sinto-me um só com ele, mas com ele como ele é, e não na medida em que preciso dele como objeto para meu uso”3. Contudo, no avanço da era moderna ocorre a fragmentação da experiência afetiva, mediada pelos signos do capital. Karl Marx (1818-1883) já enunciara as bases alienantes desse processo pelo conceito de “fetichismo da mercadoria”4. Projetamos nos objetos qualidades fantasmagóricas e estas interferem imediatamente nas relações sociais, interpondo-se entre os indivíduos. Os objetos adquirem como que vida própria e se tornam mais importantes do que a singularidade humana, plenamente subjugada pelo mecanismo social do dinheiro. As relações humanas, intermediadas por mercadorias, perdem sua substancialidade e se igualam ao nível das coisas. Conforme argumenta a socióloga Eva Illouz (1961), “na cultura do capitalismo afetivo, os afetos se tornaram entidades a ser analisadas, inspecionadas, discutidas, negociadas, quanti cadas e mercantilizadas”5.
As pessoas se tornam coisas que podem ser adquiridas, consumidas e descartadas ao gosto do usuário, trocando-o por outro que aparentemente se demonstre como mais “interessante” no momento. Nessa dinâmica existencial, ninguém é considerado insubstituível e toda ideia de singularidade se torna um argumento vazio. Nesse processo de dissolução da dignidade humana, “a pessoa não se preocupa com sua vida e felicidade, mas em tornar-se vendável”6. As relações amorosas se tornam apenas um meio de obtenção imediata de prazer sexual, e de modo algum uma genuína interação interpessoal, pautada pelo respeito e pela a rmação do valor humano do outro. Esse processo de despersonalização do indivíduo, imerso no oceano da indiferença existencial, é a característica por excelência da ideia de “vida líquida” problematizada por Bauman; uma vida precária, em condições de incerteza constante: “A vida na sociedade líquido-moderna é uma versão perniciosa da dança das cadeiras, jogada para valer. O verdadeiro prêmio nessa competição é a garantia (temporária) de ser excluído das leiras dos destruídos e evitar ser jogado no lixo”7.

O “AMOR platônico” é associado pelo senso comum a uma experiência que não se concretiza; nada mais equivocado, pois a processão da alma rumo ao Belo é uma trajetória que se realiza a rigor, permitindo ao “amante” atingir a plenitude do Ser

Em tempos de capitalismo flexível, é inviável a manutenção na crença em relações afetivas duradouras. Em uma perspectiva ética orientada pelos princípios da alteridade, não se pressupõe que todas as relações interpessoais sejam duradouras do ponto de vista extensivo, mas sim que sejam intensas e a rmadoras das qualidades de ambas as pessoas envolvidas nesse processo. É inconveniente aos preceitos mercantis e seus inerentes mandamentos produtivistas que o indivíduo sofra continuamente pelas dores de amor, pois isso gera riscos de diminuição da capacidade de dedicação humana ao labor cotidiano. Todavia, ao menos nesse ponto, o comercialismo capitalista conseguiu burlar esse transtorno ao criar uma miríade de medicamentos que atenuam o mal-estar existencial decorrente da ausência do ser amado ao nosso lado.


O consumo está tão enraizado em nossa sociedade que as pessoas estão se consumindo como se fossem mercadorias. A “coisificação” do ser humano e o anseio pela novidade é o motor propulsor da sociedade de consumo e das relações interpessoais

As histórias clássicas de amor demonstram sua super cialidade ao transmitir a ideia do “viveram felizes para sempre”, como se a efetivação matrimonial da relação amorosa culminasse na supressão de todas as adversidades existenciais; talvez seja justamente a partir desse momento que todos os percalços surjam, pois a convivência cotidiana com o outro é a prova maior de sua suportabilidade e condição indispensável para que possamos desenvolver uma genuína experiência ética. Ao abordar essa questão, o psiquiatra espanhol Enrique Rojas (1949) a rma que: “O amor humano é um sentimento de aprovação e a rmação do outro, e por isso nossa vida tem um novo sentido de busca e desejo de estar ao lado da outra pessoa”8.

O AMOR AUTÊNTICO NÃO PODE SE FUNDAMENTAR APENAS EM UM CONTRATO, MAS SIM EM UMA PODEROSA CELEBRAÇÃO REGIDA PELA ESPONTANEIDADE E PELA ALEGRIA

O amor autêntico por uma pessoa não pode se fundamentar apenas em um contrato moral-jurídico-religioso, mas sim em uma poderosa celebração regida pela espontaneidade e pela alegria. O respeito verdadeiro pelo ser amado não brota pelo cumprimento de um formalismo contratual, mas sim pelo cuidado para com ele, nascido do sentimento de alteridade; tal como pertinentemente abordado por Edgar Morin (1921): “A autenticidade do amor não consiste em projetar nossa verdade sobre o outro e, nalmente, ver o outro exclusivamente segundo nossos olhos, mas sim de nos deixar contaminar pela verdade do outro”9. Porém, essa experiência é incompatível com o regime de descartabilidade capitalista, no qual todas as coisas devem ser de pouca durabilidade, de modo que a roda do consumo jamais se paralise.

O processo de despersonalização do indivíduo, imerso no oceano da indiferença existencial, é a característica por excelência da ideia de “vida líquida” problematizada por Bauman

Obviamente que todo ser humano possui pleno direito de experimentar exaustivamente relações afetivas em busca da autorrealização amorosa, mas o elemento criticável na conjuntura capitalista inserida na sociabilidade decorre da irresponsabilidade ética para com a gura do outro, imputada como desprovida de interioridade, sentimentos e valores. Queremos gozar a vida plenamente mesmo que através da degradação do outro e sem que corramos os riscos provenientes das incertezas decorrentes de toda relação interpessoal. Slavoj Zizek (1949) argumenta criticamente que “hoje tudo é permitido ao ‘último homem’ hedonista: tirar proveito de todos os prazeres, mas na condição de eles estarem privados da sua substância, que os torna perigosos”10.
Um dos principais temas abordados nas obras do sociólogo polonês Zygmunt Bauman (1925) é a angústia despertada nos seres humanos pela pressa em encontrar o parceiro perfeito
Imerso nesse processo rotativo de inclusão e exclusão instantâneas nas suas relações afetivas, o indivíduo teme a rmar a potência uni cadora do amor que, em sua própria vivência, é inefável. Quando amamos, amamos a pessoa pelo que ela é ou pelo que ela representa socialmente e materialmente para nós? Podemos a rmar que a “moralidade líquida” optou pela segunda possibilidade, fazendo sempre da - gura do outro um estranho que só adquire importância quando se presta a satisfazer os nossos objetivos egoístas. Conforme argumenta o ensaísta mexicano Octavio Paz (1914-1998): “O amor é uma tentativa de penetrar em outro ser, mas só pode ser realizado sob a condição de que a entrega seja mútua. Em todos os lugares é difícil esse abandono de si mesmo; poucos coincidem na entrega e menos ainda conseguem transcender essa etapa possessiva e gozar o amor como o que realmente é: um descobrimento perpétuo, uma imersão nas águas da realidade e uma recriação constante”11.
No contexto da vivência líquida, amar se caracteriza sempre como um ato arriscado, perigoso, pois não conhecemos de antemão o resultado nal das nossas experiências afetivas: só é possível nos preocuparmos com as consequências que podemos prever, e somente delas podemos lutar para escapar. O “outro” é considerado apenas uma peça, que rapidamente entra em processo de obsolescência em nossa frívola experiência afetiva, para que logo após se possa descartá-lo tal como o bagaço da laranja atirado ao lixo; sem que haja qualquer crise de consciência da parte do indivíduo consumista de afetos e experiências em cometer tal ato para com o parceiro amoroso. Tal como destaca Pierre Lévy (1956) em sua valiosíssima incursão na Ética do amor: “Quem não se ama usa os outros para preencher as próprias de ciências. Busca um ego complementar ao seu”12.
Ser livre pressupõe uma responsabilidade difícil de suportar perante a opressão de nossa líquida vida social, cada vez mais diluída na ausência de uma autêntica compreensão e valorização da gura do “outro”, que é sempre imputado como o estranho, jamais um potencial indivíduo capaz de interação. As parcerias não se fortalecem e os medos não se dissipam. A grande ameaça, no contexto amoroso, decorre da incapacidade de compreendermos o valor afetivo de nossos interlocutores. Conforme diz Zygmunt Bauman (1925) acerca dessa dinâmica afetiva, “é preciso diluir as relações para que possamos consumi-las”13.
Não nos permitimos vivenciar o amor pleno, por medo de sermos usados no máximo das nossas capacidades e posteriormente descartados. A nal, não queremos ser violentados afetivamente pelo desgo sto da desilusão sentimental. Segundo Anthony Giddens (1938), “para que um relacionamento tenha a probabilidade de durar, é necessário o compromisso; mas qualquer um que se comprometa sem reservas arrisca-se a sofrer muito no futuro, no caso de o relacionamento vir a se dissolver”14.
Preferimos então abrir mão das relações amorosas concretas para adentrarmos na dimensão das relações virtuais que, em si, são reais, mas desprovidas do “olho no olho” que caracteriza as experiências éticas mais profundas, regidas pela capacidade de se lidar adequadamente com a presença do outro diante de nós. Evitamos assim a intimidade indesejável da presença do parceiro quando este se torna enfadonho ao nosso gosto. O desgaste decorrente da relação interpessoal é suprimido com um clique no botão do computador.

O FILME Brilho Eterno de uma Mente sem Lembranças, dirigido por Michel Gondry, retrata a fragilidade dos relacionamentos. Com o gradativo aumento da intimidade, um deseja se livrar do outro, no eterno imbróglio de se dar 

bem, até perceberem que o par possível só pode ser o ser humano em sua oscilante acepção
O interlocutor se torna uma mera imagem sensual a ser consumida e ejetada sem maiores delongas do círculo de contatos e do próprio âmbito da percepção pes soal. Pessoas retraídas se tornam poderosamente sedutoras através da mediação eletrônica, conseguindo extravasar as disposições sensuais que permaneceriam recalcadas em circunstâncias concretas. A assepsia das relações virtuais e a descartabilidade do que Bauman denomina como “relacionamentos de bolso” são a tônica do “amor líquido”, pois podemos dispor deles quando necessário e depois tornar a guardá-los15. Os ditos “relacionamentos virtuais” são assépticos e descartáveis, e não exigem o compromisso efetivo de nenhuma das partes pretensamente envolvidas nessa interação eletrônica. Tal como apontado por Eva Illouz (1961), “a internet di culta muito mais um dos componentes centrais da sociabilidade, qual seja, a nossa capacidade de negociar com nós mesmos, continua mente, os termos em que nos dispomos a estabelecer relações com os outros [...] A internet proporciona um tipo de conhecimento que, por estar desinserido e desvinculado de um conhecimento contextual e prático da outra pessoa, não pode ser usado para compreendê-la como um todo”16.

Ao adentrar o universo das relações virtuais, buscamos evitar a intimidade indesejável da presença do parceiro quando este se torna enfadonho ao nosso gosto

Adicionamos cada vez mais amigos e compartilhamos frases e imagens contra as injustiças sociais em nossas redes sociais, mas somos incapazes de transpor para o “mundo real” o nosso ativismo virtual e continuamos passando indiferentes a cenas reais de pobreza
As facilidades comunicacionais das nossas convergências midiáticas, em vez de favorecem o aumento de participação na esfera pública, geram um curioso efeito reverso de acomodamento social dos indivíduos, cada vez mais embotados pelo amálgama de informações que são reproduzidas diariamente pela estrutura midiática. As redes sociais, que, utilizadas de maneira crítica e consciente, promovem mecanismos de politização e interatividade interpessoal, na dinâmica do “amor líquido” se tornam apenas utensílios quantitativos para a ampliação do número de amigos. Temos milhares de amigos nas redes sociais, mas nem sequer cumprimentamos muitos deles ao defrontá-los no cotidiano; temos amigos em diversas partes do planeta, mas somos incapazes de olhar de maneira humana para o nosso vizinho, muito menos para o homem da rua que perpetua cotidianamente sua penúria.
O medo do vazio da vida e a incapacidade do homem em lidar com o sentimento de perda e de desapego são algumas das motivações existenciais para a con guração do “amor líquido”, atrelado ao dispositivo que impõe a cada pessoa, submetida ao padrão totalitário de consumo, a necessidade de gozar a todo custo, ainda que em detrimento da humanidade do outro. Para Enrique Rojas (1949), “é preciso construir uma nova pedagogia do amor, partindo de nós próprios e não do prazer sexual colocado à frente do amor. É justamente essa tergiversação de palavras que nos levou a um consumo de sexo que se afasta do sentido profundo do encontro amoroso. O parceiro nas relações se xuais não tem importância como pessoa, só existe como corpo”17.
A degradação da condição humana na experiência amorosa da sociedade tecnocrática provém da manifestação do medo social diante da incerteza em relação ao futuro cada vez mais problemático, assim como expressão da incapacidade humana de aceitar desa os, arriscar o desconhecido, vivenciar a intensidade do amor; o amor somente se realiza satisfatoriamente quando as partes envolvidas na relação visam no ser do parceiro um salutar complemento existencial, e não um suporte para o preenchimento do vazio interior produzido pela participação em uma realidade degradante. Para Bauman, “a incerteza é o habitat natural da vida humana – ainda que a esperança de escapar da incerteza seja o motor das atividades humanas. Escapar da incerteza é um ingrediente fundamental, mesmo que apenas tacitamente presumido, de todas e quaisquer imagens compósitas da felicidade. É por isso que a felicidade “genuína” adequada e total sempre parece residir em algum lugar à frente: tal como o horizonte, que recua quando se tenta chegar mais perto dele”18.

O AMOR SE REALIZA QUANDO OS ENVOLVIDOS NA RELAÇÃO VISAM NO PARCEIRO UM COMPLEMENTO EXISTENCIAL, E NÃO UM SUPORTE PARA O PREENCHIMENTO DO VAZIO INTERIOR

O medo difuso na experiência cotidiana in ltrou-se na esfera da sociabilidade e, por conseguinte, nas relações afetivas, tornando a vivência plena do amor um evento indesejável, enfadonho, arriscado, mesmo perigoso para quem se propõe a amar alguém, pois requer investimento de tempo, algo raro em uma era regida pela vertiginosa pressa em todos os estamentos da vida humana. Bauman argumenta que: “Os medos nos estimulam a assumir uma ação defensiva. Quando isso ocorre, a ação defensiva confere proximidade e tangibilidade ao medo. São nossas respostas que reclassi cam as premonições sombrias como realidade diária, dando corpo à palavra. O medo agora se estabeleceu, saturando nossas rotinas cotidianas; praticamente não precisa de outros estímulos exteriores, já que as ações que estimula, dia após dia, fornecem toda a motivação e toda a energia de que ele necessita para se reproduzir. Entre os mecanismos que buscam se aproximar do modelo de sonhos do moto-perpétuo, a autorreprodução do emaranhado do medo e das ações inspiradas por esse sentimento está perto de reclamar uma posição de destaque”19.

SEGUNDO o psiquiatra e psicoterapeuta Flávio Gikovate (1943), em vez de ser um fim em si mesmo, o amor deveria funcionar como um meio para o aprimoramento individual, nos curando das frustrações do passado e nos impulsionando para o futuro

Troca-se de parceiro como se troca de peça de vestuário. Tememos a proximidade do “outro”, pois este, na visão distorcida que dele fazemos, traz sempre consigo uma sombra ameaçadora, capaz de desestabilizar o frágil suporte de nossa organização familiar, de nossa atividade pro fissional e de nossa sociedade como um todo. A busca por experiências “amorosas” fugazes não representa sinal de vitalidade sexual do indivíduo, mas um empobrecimento da sua capacidade de se relacionar profundamente com a subjetividade do outro. Para Bauman, “nos compromissos duradouros, a líquida razão moderna enxerga a opressão; no engajamento permanente percebe a dependência incapacitante”20. O tipo egoísta é incapaz de amar o outro e tampouco é capaz de amar a si mesmo. O que essa gura autocentrada supostamente venera em si mesmo é a máscara social que ela utiliza como instrumento de fuga de sua interioridade “dessubstancializada”, de sua própria pobreza existencial

De tanto utilizar máscaras sociais como instrumento de fuga da própria interioridade, há o perigo de nos perdermos de nós mesmos

O caráter agravante de tal situação é que muitas vezes colocamos o “outro” em situações vexatórias ou em condições vitais degradantes, e ainda por cima esperamos dele respostas positivas. Tememos amar plenamente alguém por não querermos ser usados no máximo das nossas capacidades e sermos descartados posteriormente, quando a relação amorosa vier a demonstrar os seus primeiros sinais de turbulência: “desenvolvemos o crônico medo de sermos deixados para trás, de sermos excluídos”21. Como o ritmo da vida líquida é marcado pela flutuação dos ânimos e as incertezas quanto ao futuro, o mais sensato é não se investir em nenhum tipo de risco afetivo, permanecendo-se assim na trincheira do amor. Richard Sennett (1943), por sua vez, argumenta que “nas relações íntimas, o medo de tornar-se dependente de outra pessoa é uma falta de con ança nela; em vez disso, prevalecem nossas defesas”22.
Pensar a questão do amor em sua acepção losó ca é um exercício intelectual no qual elementos éticos e ontológicos se manifestam continuamente nessa vastíssima e íngreme reflexão. Amar é certamente um ato ético, pois nos defronta perante a gura do outro, e também uma experiência ontológica, uma vez que na vivência do amor penetramos na subjetividade do outro pelo qual nos afeiçoamos. Todavia, o sistema de vida alienante da cultura ocidental abalou as estruturas psicológicas dos indivíduos, promovendo assim a barbárie social e o afloramento da ansiedade perante tempos incertos. O “amor líquido”, rebento da crise ética da modernidade e de seu fracasso político, nada mais é que um sintoma da fragilidade das relações humanas na confusão dos valores submetidos aos signos tecnocráticos do capital. Certamente não existe uma panaceia para a transformação imediata dessa situação, mas medidas microscópicas podem ser desenvolvidas no decorrer da vida cotidiana, tendo-se em vista a revalorização da condição humana e sua inerente sociabilidade.

Liberdade sexual de “massa”
O ardor hedonista de satisfação imediata dos ímpetos sensuais tornou a figura do parceiro amoroso apenas um pedaço de carne capaz de proporcionar o prazer esperado. Dessa maneira, a liberação sexual não se originou de um processo político de afirmação da alteridade, mas de uma necessidade capitalista de exaustão de todo potencial humano. A psicanalista brasileira Maria Rita Kehl (1951) é categórica ao afirmar que “a aliança entre a expansão do capital e a liberação sexual fez do interesse das massas consumidoras pelo sexo um ingrediente eficiente de publicidade. Tudo o que se vende tem apelo se xual: um carro, um liquidificador, um comprimido contra dor de cabeça, um provedor de internet, um tempero industrializado. A imagem publicitária evoca o gozo que se consuma na própria imagem, ao mesmo tempo que promete fazer do consumidor um ser pleno e realizado. Tudo evoca o sexo ao mesmo tempo que afasta o sexual, na medida em que a mercadoria se oferece como presença segura, positivada no real, do objeto de desejo”
Maria Rita Kehl, Ética e Psicanálise

1Platão, O Banquete, 210b 210b.
2Platão, O Banquete, 210b-d.
3Fromm, A Arte de Amar, p. 35.
4Marx, O Capital, Livro 1, volume 1, p. 94.
5Illouz, O amor nos tempos do capitalismo, p. 154-155.
6Fromm, Análise do Homem, p. 72.
7Bauman,Vida Líquida, p. 10.
8Rojas,O homem moderno: a luta contra o vazio, p. 49.
9Morin, Amor, Poesia, Sabedoria, p. 30.
10Zizek, A subjetividade por vir, p. 132.
11Paz, O labirinto da solidão, p. 41.
12 Lévy, O fogo liberador, p. 58.
13Bauman, Amor Líquido, p. 10.
14Giddens, A transformação da intimidade, p. 152.
15Bauman, Amor Líquido, p. 10.
16Illouz, O amor nos tempos do capitalismo, p. 141; p.149.
17Rojas, O homem moderno, p. 50.
18 Bauman, A arte da vida, p. 31-32.
19Bauman, Tempos Líquidos, p. 15.
20Bauman, Amor Líquido, p. 65.
21Bauman, Medo Líquido, p.29.
22Sennett, A corrosão do caráter, p. 167.

REFERÊNCIAS
BAUMAN, Z. Amor líquido – sobre a fragilidade dos laços humanos. Trad. de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2004.
_______. A arte da vida. Trad. de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2009.
_______. Medo líquido. Trad. de Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2008.
_______. Tempos líquidos. Trad. De Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.
_______. Vida líquida. Trad. De Carlos Alberto Medeiros. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2007.
FROMM, E. Análise do homem. Trad. de Octavio Alves Velho. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 1983.
______. A arte de amar. Trad. de Eduardo Brandão. São Paulo: Martins Fontes, 2000.
GIDDENS, A. A transformação da intimidade – sexualidade, amor e erotismo nas sociedades modernas. Trad. de Magda Lopes. São Paulo: Ed. Unesp, 1993.
ILLOUZ, E. O amor nos tempos do capitalismo. Trad. de Vera Ribeiro. Rio de Janeiro: Jorge Zahar, 2011.
KEHL, M. R. Sobre Ética e Psicanálise. São Paulo: Companhia das Letras, 2002.
LÉVY, P. O fogo liberador. Trad. de Lílian Escorel. São Paulo: Iluminuras, 2007.
MARX, K. O capital: crítica da economia política. Livro I, Volume 1. Trad. de Reginaldo Sant’Anna. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira, 2002.
MORIN, E. Amor, poesia, sabedoria. Trad. de Edgard de Assis Carvalho. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 2011.
PAZ, O. O labirinto da solidão. Trad. de Eliana Zagury. Rio de Janeiro: Paz e Terra, 2006.
PLATÃO. Banquete. Trad. de José Cavalcante de Souza. Rio de Janeiro: Bertrand Brasil, 1999.
ZIZEK, S. A subjetividade por vir: ensaios críticos sobre a voz obscena. Trad. de Carlos Correia Monteiro de Oliveira. Lisboa: Relógio d’Agua, 2006.

Texto Retirado da Revista Filosofia - Ciência & Vida

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