Quem foi João XXIII?

Angelo Giuseppe Roncalli, posteriormente conhecido como João XXIII, nasceu no dia 25 de novembro de 1881 na pequena comuna italiana de Sotto il Monte. Foi o quarto de treze irmãos, nascidos numa família de camponeses e de tipo patriarcal. Ao seu tio Xavier, ele mesmo atribuirá a sua primeira e fundamental formação religiosa.
Ainda muito jovem, ingressou no seminário da diocese de Bérgamo com o sonho de se tornar padre, ali ficou até chegar ao segundo ano de Teologia. No dia 1º de Março de 1896, o seu director espiritual admitiu-o na ordem franciscana secular, cuja regra professou a 23 de Maio de 1897. De 1901 a 1905 foi aluno do Pontifício Seminário Romano, graças a uma bolsa de estudos da diocese de Bérgamo. Neste tempo prestou, além disso, um ano de serviço militar.
No dia 10 de agosto de 1904, na capital italiana, foi ordenado sacerdote. No ano seguinte foi nomeado secretário do novo Bispo de Bérgamo, D. Giacomo Maria R. Tedeschi, acompanhando-o nas várias visitas pastorais e colaborando em múltiplas iniciativas apostólicas:  sínodo, redação do boletim diocesano, peregrinações, obras sociais. Às vezes era também professor de história eclesiástica, patrologia e apologética. Foi também Assistente da Acção Católica Feminina, colaborador no diário católico de Bérgamo e pregador muito solicitado, pela sua eloquência elegante, profunda e eficaz
Em 1915, quando a Itália entrou em guerra, foi chamado como sargento sanitário e nomeado capelão militar dos soldados feridos que regressavam da linha de combate. No fim da guerra abriu a "Casa do estudante" e trabalhou na pastoral dos jovens estudantes. No ano de 1919 foi nomeado diretor espiritual do Seminário. Em 1921 teve início a segunda parte da sua vida, dedicada ao serviço da Santa Igreja. Tendo sido chamado a Roma por Bento XV como presidente nacional do Conselho das Obras Pontifícias para a Propagação da Fé, percorreu muitas dioceses da Itália organizando círculos missionários. Em 1925, Pio XI nomeou-o Visitador Apostólico para a Bulgária e elevou-o à dignidade episcopal da Sede titular de Areopolis.
No dia 19 de Março de 1925 recebeu a ordenação episcopal se tornando o bispo de uma diocese da Bulgária. Visitou as comunidades católicas e cultivou relações respeitosas com as demais comunidades cristãs. Actuou com grande solicitude e caridade, aliviando os sofrimentos causados pelo terremoto de 1928. Suportou em silêncio as incompreensões e dificuldades de um ministério marcado pela táctica pastoral de pequenos passos. Consolidou a sua confiança em Jesus crucificado e a sua entrega a Ele.
Em 1935 foi nomeado Delegado Apostólico na Turquia e Grécia:  era um vasto campo de trabalho. A Igreja tinha uma presença activa em muitos âmbitos da jovem república, que se estava a renovar e a organizar. Mons. Roncalli trabalhou com intensidade ao serviço dos católicos e destacou-se pela sua maneira de dialogar e pelo trato respeitoso com os ortodoxos e os muçulmanos. Quando irrompeu a segunda guerra mundial ele encontrava-se na Grécia, que ficou devastada pelos combates. Procurou dar notícias sobre os prisioneiros de guerra e salvou muitos judeus com a "permissão de trânsito" fornecida pela Delegação Apostólica. Em 1944 Pio XII nomeou-o Núncio Apostólico em Paris.
Em 1953 foi nomeado Cardeal e enviado a Veneza como Patriarca, realizando ali um pastoreio sábio e empreendedor e dedicando-se totalmente ao cuidado das almas, seguindo o exemplo dos seus santos predecessores:  São Lourenço Giustiniani, primeiro Patriarca de Veneza, e São Pio X.
Depois da morte de Pio XII, foi eleito Sumo Pontífice a 28 de Outubro de 1958 e escolheu para essa missão o nome João XXIII. Alguns críticos do assunto acreditam de Angelo Roncalli foi eleito papa no conclave, pois os demais cardeais esperavam que fosse um pontificado curto e que poderiam influenciar fortemente as decisões do novo pontífice.
O seu pontificado, que durou menos de cinco anos, apresentou-o ao mundo como uma autêntica imagem de bom Pastor. Manso e atento, empreendedor e corajoso, simples e cordial, praticou cristãmente as obras de misericórdia corporais e espirituais, visitando os encarcerados e os doentes, recebendo homens de todas as nações e crenças e cultivando um extraordinário sentimento de paternidade para com todos. O seu magistério foi muito apreciado, sobretudo com as Encíclicas "Pacem in terris" e "Mater et magistra".]
Convocou o Sínodo romano, instituiu uma Comissão para a revisão do Código de Direito Canônico e convocou no ano de 1962 o Concílio Ecumênico Vaticano II.
João XXIII idealizou o Concílio Vaticano II "como um novo “Pentecostes”; uma grande experiência espiritual que reconstituiria a Igreja Católica não apenas como instituição, mas sim "como um movimento evangélico dinâmico; e uma conversa aberta entre os bispos de todo o mundo sobre como renovar o Catolicismo como estilo de vida inevitável e vital. O próprio Papa João XXIII afirmou que "o que mais importa ao Concílio Ecumênico é o seguinte: que o depósito sagrado da doutrina cristã seja guardado e ensinado de forma mais eficaz. Para satisfazer esta sua intenção, João XXIII queria ardentemente que a Igreja mudasse de mentalidade, para poder melhor enfrentar e acompanhar as transformações do mundo moderno.
A partir deste Concílio, que só terminou em 1965, a Igreja Católica, através da sua renovação, abriu-se mais ao mundo moderno. Por isso, houve mudanças significativas no Catolicismo: uma grande reforma litúrgica (revisão e simplificação da Missa de rito romano); uma nova perspectiva sobre a liberdade religiosa, a natureza e constituição da Igreja, a colegialidade dos bispos, o apostolado dos leigos e a dignidade dos fiéis, e a relação entre a Revelação divina e a Tradição; novos rumos para o ecumenismo e a pastoral católica; e uma nova abordagem aos problemas do Mundo moderno.
A centralização do poder no Vaticano, iniciada no final do século XIX, foi revista, sendo a Igreja vista como uma comunidade de cristãos em todo o mundo. O Concílio, todavia, não firmou dogmas, e sim serviu de orientação pastoral à Igreja Católica, sendo seus efeitos vistos de forma controversa pelos praticantes do catolicismo. Para alguns estudiosos, este Concílio, até aos nossos dias, não foi ainda entendido, enfrentando por isso problemas que perduram.
João XXIII faleceu de câncer no estômago, após longa luta contra tal enfermidade, no dia 3 de junho de 1963, não chegando por isso a encerrar o Concílio Vaticano II. Ele foi sucedido pelo Cardeal Giovanni Montini, que escolheu o nome papal de Paulo VI e que implementou as medidas e reformas do Concílio Vaticano II. Na altura da sua morte, a revista "Times" constatou e "comentou que poucos pontífices entusiasmaram assim tanto o mundo" como o Papa João XXIII.
Por sua importância, seus exemplos de coragem e de vida vivida em pról dos outros, o papa João XXIII é homenageado, até os dias atuais, em várias partes do mundo: ruas, avenidas, praças, hospitais, escolas, recebem seu nome.

A todos os homens de boa vontade incumbe a imensa tarefa de restaurar as relações de convivência humana na base da verdade, justiça, caridade e liberdade: as relações das pessoas entre si, as relações das pessoas com as suas respectivas comunidades políticas, e as dessas comunidades entre si, bem como o relacionamento de pessoas, famílias, organismos intermédios e comunidades políticas com a comunidade mundial. Tarefa nobilíssima, a de realizar a verdadeira paz, segundo a ordem estabelecida por Deus.”
João XXIII – Encíclica “Pacem in Terris”

Trechos desse texto foram retirados da biografia de João XXIII no site do Vaticano

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