Gênero e Diversidade na Escola


O Desafio da Escola em Lidar com a Diversidade
Por: José Rosamilton de LIMA

A escola não tem conseguido acompanhar o ritmo de informações que ocorrem na complexidade da sociedade atual. Há um grande esforço de profissionais da educação em buscar novas formas de atrair a atenção do aluno na sala de aula. Deparamo-nos diariamente com diversas situações delicadas que não temos de imediato um posicionamento conciso. 
Na maioria das vezes, nossa falta de segurança e não aprofundamento sobre determinados temas nos direcionam para uma postura não satisfatória ao nosso senso crítico. Logo, continuamos a manter a função da escola de reprodutora de estereótipos ultrapassados que não condizem mais com o perfil da sociedade contemporânea. Ou seja, a escola continua a ignorar o trabalho com temas relacionados à diversidade, ao preconceito racial, às questões de gêneros, sexualidade e orientação sexual.
Precisamos de capacitação para conviver com a diversidade social no ambiente escolar, respeitando as distintas visões de mundo e valores, fortalecendo as ações de combate à discriminação e aos diversos tipos de preconceitos existentes na sociedade. Diante disso, devemos assimilar conceitos que envolvem as temáticas da diversidade, etnia, gênero e sexualidade. Esse embasamento teórico possibilita uma reflexão na sala de aula para debater sobre temas polêmicos como racismo, a equidade de gênero, sexualidade e orientação sexual.
Na verdade, o profissional da educação deve transformar a sala de aula em um ambiente colaborativo, com uma gestão de saber que envolve também aspectos humanos, culturais e sociais. Portanto, desejamos neste artigo trazer breves reflexões acerca das temáticas: promoção da igualdade, respeito e valorização da diversidade étnico-racial, identidade de gênero e de orientação sexual, numa perspectiva de transformar as práticas de ensino de sala de aula, de maneira que venha a desconstruir preconceitos e romper o ciclo de sua reprodução na escola.

A diversidade cultural brasileira e o papel da escola no combate à discriminação

O ser humano apresenta diversificadas características comportamentais que influenciam as suas ações na sociedade. A nossa formação enquanto pessoa ocorre por meio dos conhecimentos que adquirimos no convívio com outros atores sociais. Quando nascemos já somos inseridos em um contexto pré-determinado pela identidade cultural ao grupo que fazemos parte. Desse modo, estamos aptos à aquisição de informações para trilhar o nosso caminho durante nossa vida, tendo em vista que, ao longo dessa caminhada, devemos nos tornar seres humanos mais íntegros, justos e fraternos para que possamos viver em harmonia com o planeta e com as pessoas que nos rodeiam, respeitando-as e amando-as como a nós mesmos. No entanto, podemos observar que não é bem assim que as coisas funcionam, pois somos integrantes de um modelo econômico capitalista que estimula a competitividade e o acúmulo de bens materiais. Logo, somos movidos pelo desejo de sermos sempre melhor do que o outro, o que nos leva a obcecação de que devemos nos posicionar em um patamar sempre acima do outro indivíduo. Por isso, passamos a defender a nossa cultura, crenças, costumes e tradições como o padrão a ser seguido, sem reconhecer a importância das demais culturas, vivenciando assim a prática do etnocentrismo. Segundo consta no Livro de Conteúdo  Gênero e Diversidade na Escola (2009, p. 24):

O etnocentrismo consiste em julgar, a partir de padrões culturais próprios, como “certo” ou “errado”, “feio” ou “bonito”, “normal” ou “anormal” os comportamentos e as formas de ver o mundo dos outros povos, desqualificando suas práticas e até negando sua humanidade.

Nessa perspectiva, conviver em sociedade com tantas diferenças quer seja de gênero, de linguagem, de raça e etnia, dentre outras, acaba gerando determinados tipos de discriminação e preconceitos. De acordo com o Livro de Conteúdo Gênero e Diversidade na Escola (2009, p. 197) preconceito é “qualquer atitude negativa em relação a uma pessoa ou a um grupo social que derive de uma ideia preconcebida sobre tal pessoa ou grupo”. Podemos dizer que na maioria das vezes, a não aceitação ao diferente ocorre por meio do nosso complexo de superioridade em definir aquilo que na nossa concepção é a “verdade”.

Aliás, defendemos princípios morais e éticos que estão enraizados na nossa cultura justamente por não querer aceitar e/ou conviver com as diferenças. Na verdade, esse nosso pensar muitas vezes vão de encontro com as novas concepções de vida em sociedade. Por isso, temos que reconhecer que muitos conceitos precisam ser revistos, tendo em vista as mudanças que estão ocorrendo na sociedade contemporânea. Nesse sentido, romper obstáculos e aceitar o novo é um desafio enorme que requer muita disposição. Por isso, às vezes é mais cômodo para nós, culparmos as pessoas que são consideradas diferentes para que elas se adequem à sociedade, e se esforcem para serem iguais a outras. Isto é, sejam “normais” e desenvolvam um comportamento e ações que se encaixem no que se define como correto, como a verdade.
Vale ressaltar que, na concepção do pensador Michel Foucault (2008b) a verdade é algo que ocorre por meio das relações de força. Nesse caso, os estereótipos criados na sociedade brasileira em que situam a mulher como inferior e submissa ao homem, negro como indivíduo que possui capacidade de fazer os trabalhos braçais, gays e prostitutas como indivíduos que perturbam a integridade moral da sociedade, nordestino que representa o analfabetismo do país, índios como selvagens, entre outros, foi estabelecido por um grupo de dominantes que buscou impor a cultura e ditou as regras de convivência e comportamento de nosso país ao seu modo.
No entanto, devemos considerar que o próprio Foucault (2008b) defende que o poder deve ser analisado como algo que só funciona em cadeia, pois não se concentra somente no Estado, mas sim nas diversas partes da sociedade. Portanto, coloca-se o poder como algo positivo. Dessa maneira, o saber é produzido pelas relações de forças que se deram em uma determinada época, e a produção do saber articula-se ao poder, este por sua vez, cria elementos que controlam o dizer.
Por exemplo, temos o conhecimento de que os negros são penalizados na educação, por meio da exclusão do sistema formal de ensino, assim como, nas outras esferas da vida social. Tal atitude tem suscitado das políticas públicas ações que venham trazer contributos como forma de coibir e/ou amenizar qualquer forma de preconceito contra a pessoa humana.
Pois, com base no Livro de Conteúdo Gênero e Diversidade na Escola (2009) a desigualdade é um fenômeno social que produz uma hierarquização entre indivíduos ou grupos não permitindo um tratamento igualitário a todos no que se refere a oportunidades, acesso a bens e recursos.
Sabemos que, desde o principio da colonização do Brasil, o sistema educacional foi submetido a uma formação cultural influenciada praticamente pelos europeus, que através de massacres e escravidão conquistaram o poder que dominou a sexualidade, a religiosidade e a linguística dos nativos e escravos africanos. Assim, o sistema de ensino brasileiro desde o seu surgimento valorizou um currículo eurocêntrico que priorizou a cultura branca, masculina e cristã, menosprezando as demais culturas dentro da sua composição do currículo e das atividades do cotidiano escolar.

É interessante mencionarmos que o negro no Brasil foi muito injustiçado desde o momento em que foi trazido da África para trabalhar como escravo nas lavouras brasileiras. O negro foi sempre relacionado ao trabalho braçal, pesado que envolvesse muita atividade física e envolvesse menos esforço intelectual. A libertação dos escravos ocorreu no Brasil devido à pressão mundial, sendo o nosso país um dos que mais demoraram a acabar oficialmente com a escravidão.
Porém, na contemporaneidade, o negro ainda não conseguiu a igualdade de direitos como ser humano. Pois, ele continua sendo excluído, visto como símbolo de falta de inteligência e incapaz de viver na sociedade elitista. Prova disso, é o mercado de trabalho que prioriza na maioria das vezes o padrão estético em que o público, principalmente, o elitizado recusa-se de aceitar o negro como apto a atuar em cargos de prestígio social. Nesse contexto, devido o débito histórico de nosso país que sempre maltratou o negro, se faz necessário que o Brasil crie políticas que viabilizem a inserção do negro nas universidades, no mercado de trabalho e, consequentemente, na sociedade, a fim de amenizar o sofrimento que foi causado às pessoas de pele negra.

Segundo o Livro de Conteúdo Gênero e Diversidade na Escola (2009, p. 196):
O racismo é uma doutrina que afirma não só a existência das raças, mas também a superioridade natural e, portanto, hereditária, de umas sobre as outras. A atitude racista, por sua vez, é aquela que atribui qualidade aos indivíduos ou aos grupos conforme o seu suposto pertencimento biológico a uma dessas diferentes raças e, portanto, de acordo com as suas supostas qualidades ou defeitos inatos e hereditários.

Nessa perspectiva, para que se reverta esse quadro de discriminação e preconceito que está agregado na sociedade brasileira, se faz necessário que a sociedade civil manifeste o desejo de mudança. Para isso, a população deve reivindicar de forma organizada para que o nosso país seja mesmo o da diversidade, e faça isso valer, para que todos os nossos cidadãos e cidadãs respeitem a diferença e tenham direitos iguais, independentemente da região geográfica, situação econômica, gênero, cor da pele, etnia a qual pertença, etc.
Dessa forma, o ambiente escolar é um lugar que se concentra muitos jovens em processo de formação de identidade. Portanto, a escola é um local propício para que possamos diminuir a discriminação e as diversas formas de preconceito. Na concepção do Livro de
Conteúdo Gênero e Diversidade na Escola (2009, p. 197):

O racismo tem uma história, que é tipicamente ocidental e moderna e diz respeito às relações de saber e poder que se estabeleceram tanto internamente à população europeia, quanto entre as sociedades europeias ou europeizadas e uma grande variedade de outras sociedades e povos. Em ambos os casos, o que o racismo faz é usar as diferenças para naturalizar as desigualdades.

Com base no exposto, nós como professores temos que despertar a consciência nos nossos alunos e instigá-los a não formarem uma concepção preconceituosa com o negro, que está posto nos livros, dicionários, e outros instrumentos que subsidiam os objetivos educacionais de um ensino voltado para uma cultura monopolizada que estabelece padrões a serem seguidos como referências à pessoa de pele branca, heterossexual e de condições econômicas favoráveis.


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