Filosofia da Informação

Seu intuito é refletir sobre a avalanche de informações geradas e consumidas no mundo atual. Mas suas primeiras indagações procuram pela base dessa sociedade do conhecimento. Em Heráclito, Parmênides e Ilharco
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Por transformar comportamentos, valores, estruturas e estratégias, a disseminação das tecnologias da informação e da comunicação (TICs) traz à tona novos desafios e problemas à humanidade. Ao mesmo tempo em que as TICs abrem numerosas possibilidades de atuação e, por isso, mais oportunidades, elas também possibilitam o surgimento de práticas profundamente questionáveis no âmbito da Ética e da Moral. São questões relacionadas à dignidade humana, aos direitos individuais, à privacidade, à responsabilidade social, à solidariedade e à partilha de valores pela comunidade, entre outras.
Tais questões, muitas vezes, surgem em paralelo a processos de mudança ocorridos seja em uma organização, em um país ou mesmo na comunidade internacional. Quase sempre os envolvidos tendem a reagir 
com
 receio. Os avanços da Ciência e da Tecnologia, especialmente os desenvolvimentos na Genética e na Biotecnologia, têm de igual modo colocado desafios éticos e morais profundos.

Nesse contexto, surge a Filosofia da Informação, uma área que se dedica a fazer uma reflexão filosófica fundamental sobre a informação. É um questionar de forma tão basilar e fundamental quanto o é o questionar fundador dos variados ramos da Filosofia: o que é ser? (Ontologia), o que é conhecer? (Epistemologia), o que é a Linguagem? (Filosofia da Linguagem), o que é a mente, a consciência, o bem e o mal, o pensamento etc., explica um dos maiores expoentes da Filosofia da Informação, Fernando Ilharco, no livro Filosofia da Informação. Assim, como um campo da pesquisa filosófica voltado para a investigação crítica da estrutura conceitual e dos princípios básicos da informação e, ainda, para a sua elaboração, a tarefa da Filosofia da Informação deve pressupor, sobretudo, que um problema ou uma explicação pode ser legítimo e genuinamente reduzido a um problema de cunho essencialmente informacional.

Delmo Mattos é doutor em Filosofia pela Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Foi professor de Ética Aplicada do Programa de Pós-Graduação em Filosofia da Universidade Gama Filho e é o atual professor responsável pelas disciplinas Ética e Responsabilidade Social, Conduta Ética e o Juiz e a Ética dos cursos de aperfeiçoamento da Fundação Getulio Vargas. delmomattos@ hotmail.comwww.portalcienciaevida.com.br

VISLUMBRAMOS UMA SOCIEDADE QUEPRODUZ, A CADA DIA, MAIS INFORMAÇÃO, MAS NÃO SE PREOCUPA EM REFLETIR SOBRE COMO ESSA INFORMAÇÃO ESTÁ SENDO PROPAGADA

SOCIEDADE DA INFORMAÇÃO NA ERA DA GLOBALIZAÇÃO
“Sociedade da informação ou do conhecimento” é uma expressão comumente utilizada para designar uma forma de organização social, econômica e cultural que tem como base, tanto material quanto simbólica, o fenômeno da informação. Essa sociedade, assim organizada, contém uma forma nova de processos sociais cuja consequência é a emergência de um novo paradigma cultural, ou seja, aquele em que a humanidade abandona suas bases originais na agricultura, posteriormente na manufatura e na industrialização, para ingressar na economia da informação, na qual a manipulação da informação é a atividade principal e fundamental.
O cenário no qual surge essa transformação sociocultural é caracterizado, sobretudo, pelo uso das TICs, que expressam a essência da transformação que perpassa a sociedade atual no âmbito econômico, político e epistemológico. Segundo Castells, em seu livro A sociedade em rede, “nenhum outro modo de desenvolvimento valorizou tanto as tecnologias do conhecimento e da informação como o modo informacional de desenvolvimento do capitalismo atual”.
O novo contexto de informação surge de forma efêmera e estreitamente vinculada às novas tecnologias
Essa forma informacional de desenvolvimento instalou-se no período em que o modo de produção capitalista detectou uma impossibilidade técnica e de manutenção da ampliação dos indicadores de desempenho, tais como custos, produtividade do capital e do trabalho, obtidos predominantemente no segundo pós-guerra. Nesse momento, a competência do desenvolvimento capitalista, no sentido de apropriação de lucros crescentes dos investimentos realizados, é questionada, forçando a adoção de um novo padrão tecnológico que permitia recriar as condições de valorização do capital, como explica Mattelart, no livro História da sociedade da informação. Utilizando as características desse paradigma emergente, podem-se destacar expectativas positivas e negativas em relação à sociedade da informação. Em primeiro lugar, esse modelo de sociedade permitiu a velocidade do tempo real, com amplas possibilidades de controle, armazenamento e liberação de acesso a múltiplos conjuntos de informações. Além disso, há de se evidenciar que as novas tecnologias da informação desempenharam papel decisivo ao facilitarem o surgimento do “capitalismo flexível” e rejuvenescido, proporcionando ferramentas para a formação de redes, de comunicação a distância, de armazenamento e de processamento de informação, de individualização coordenada do trabalho e de concentração e descentralização simultâneas do processo decisório.

De acordo com o que menciona Ilharco em Filosofia da Informação, “por intermédio da tecnologia, redes de capital, de trabalho, de informação e de mercados conectaram funções, pessoas e locais valiosos ao redor do mundo”. Ao mesmo tempo, desconectaram as populações e territórios desprovidos de valor e interesse para a dinâmica do capitalismo global. Como consequência disso, assistimos à exclusão social e desintegração econômica de segmentos de sociedades, de áreas urbanas, de regiões e de países inteiros. Além do mais, são consideráveis as mudanças introduzi-das em nosso padrão de sociabilidade, contribuindo para que a relação dos indivíduos e da sociedade sofra alterações consideráveis e ocasionando efeitos negativos sobre todos os domínios da atividade humana.

Nesse contexto, pode-se perfeitamente observar a estrutura da condição de reflexão na sociedade, de tal forma que se questiona como podemos vislumbrar uma sociedade que produz a cada dia mais informação, mas não se preocupa em refletir sobre como essa informação está sendo posta, propagada, recebida e manipulada. Essas questões demonstram um propósito muito amplo, pois é a partir dessas reflexões que se pode, futuramente, resolver problemas relacionados não só à questão do gerenciamento da informação, mas também ao seu conteúdo, a sua forma de atingir o receptor, visando prioritariamente a interação da informação na sociedade na qual vivemos.

UMA CONCEPÇÃO DE INFORMAÇÃO 
Ainda que haja definições e direcionamentos diferenciados sobre a sociedade da informação, há nela algo de comum que desemboca em uma combinação das configurações e aplicações da informação com as tecnologias da comunicação em todas as suas possibilidades. Devemos indagar, com isso, o significado de informação. Certamente, há várias repostas possíveis para essa pergunta, dependendo de quem responde ou de sua área de atuação. Porém, o que deve ser de maior importância é: qual é o significado do conteúdo informacional? Para que serve a informação?

O que distingue a informação de outros fenômenos associados, como os dados, o conhecimento, a ação, as ideias, as noções, o ser, a diferença?

SEGUNDO HERÁCLITO, a unidade brota da diversidade, da tensão dos opostos. A harmonia do universo resulta da coincidência dos distintos, e o nascimento e conservação dos seres se devem a um conflito de contrários
A fim de responder a esses questionamentos, devemos nos concentrar na reflexão promovida por Hjørland e Capurro, no livro The concept of information: “Examinando a história dos usos de uma palavra, nós encontramos algumas das formas primitivas ou contextos que sustentam as práticas científicas de nível mais elevado. Isso reduz as expectativas que temos em relação a conceitos unívocos de nível mais elevado, e ajuda-nos a gerenciar melhor a vagueza e a ambiguidade. Questionar a terminologia moderna, olhar mais atentamente para as relações entre signos, significado e referências e prestar atenção às transformações dos contextos históricos ajudam-nos a compreender como usos presentes e futuro das palavras estão entrelaçados. (...) Tal revisão crítico-histórica torna possível uma melhor compreensão dos conceitos de informação de nível mais elevado no período helenístico, assim como na Idade Média e nos tempos modernos”.
Por outro viés, Floridi (1964), professor de Lógica e Epistemologia na Universidade de Bari, na Itália, e do Departamento de Ciência da Computação em Oxford, na Inglaterra – onde também coordena um grupo de pesquisa sobre Ética e Informação –, indica um caminho diferente e interessante ao propor uma Filosofia da Informação. Em seu célebre artigo What is the Philosophy of Information? (O que é a Filosofia da Informação?), Floridi propõe refletir filosoficamente sobre a informação relacionada intrinsecamente à lógica informática e computacional, na qual as teorias semânticas, matemática e comunicacional apresentam-se como fundamentos imprescindíveis para o seu empreendimento. Diante desse aspecto, segundo Floridi, no campo delimitado pela questão “o que é a informação?”, a Filosofia da Informação estabelece um duplo programa de investigação, do qual nos interessa especificamente a primeira parte, ou seja, “a que diz respeito à investigação crítica da natureza conceitual e dos princípios básicos da informação, incluindo a sua dinâmica, utilização e ciências”, informa Floridi no livro Information: a very short introduction.
O problema da informação: Heráclito e Parmênides
Utilizando-se de um perfil diferenciado do que é a informação, Ilharco evidencia o cruzamento desses dois critérios, os quais refletem dois dos temas primários e fundadores da Filosofia, isso é, a Ontologia (o estudo da natureza do ser) e a Epistemologia (o estudo da natureza do conhecer). Por conseguinte, essas duas áreas configuram quatro posições distintas, no âmbito das quais, o mundo, as coisas, os homens, a ação, as distinções, a informação nos surgem a priori
com
determinadas características e contornos. Nas palavras de Ilharco: “no que respeita à epistemologia, encontramos no extremo esquerdo desta matriz metodológica as posições que defendem de uma forma radical a natureza eminentemente subjetiva, localizada e centrada no indivíduo do conhecimento”.

A partir dessa posição extrema, não é possível argumentar se existe ou não um mundo aí fora. No extremo oposto desse eixo epistemológico, encontra-se as posições objetivistas puras, as quais assumem existir um mundo externo e objetivo, igual para todos, o qual, por isso, podemos medir, quantificar e analisar independentemente de qualquer experiência subjetiva. Por outro lado, quanto ao eixo ontológico, que varia entre as duas posições opostas e fundadoras da Filosofia Ocidental: da tese de Heráclito (540 a.C.- c.480 a.C.) – para o qual tudo estava sempre em mudança e, por isso, “nunca poderemos mergulhar duas vezes no mesmo rio – à tese de Parmênides (515a.C. - ?) para o qual a mudança era impossível, por isso, tudo sempre permanecendo tal como é.

Diante dessa distensão argumentativa e conceitual pode-se compreender o postulado pelo qual Heráclito afirma ser a essência do real o devir, isso é, vir a ser, tornar-se, ou melhor, fluxo permanente, movimento ininterrupto, atuante como uma lei geral do universo, que dissolve, cria e transforma todas as realidades existentes. Heráclito estabelece como princípio do devir o fogo. Tudo procede desse fogo eternamente vivo e tudo deve voltar ao mesmo fogo para surgir de novo em um processo circular de nascimento e destruição. E se a realidade é devir e o princípio do devir é o fogo em que tudo coincide, o todo é único, o Uno. Heráclito concebe esse fogo que tudo unifica com inteligência e divindade como lógos.

Parmênides de Eleia erige uma posição oposta à de Heráclito. Segundo este só se pode pensar sobre aquilo que permanece sempre idêntico a si mesmo, isso é, que o pensamento não pode pensar sobre as coisas que são e não são, que ora são de um modo e ora são de outro, que são contrárias a si mesmas e contraditórias. O que é percebido pelas sensações, por outro lado, é enganoso e falso, e pertence ao domínio do “não-ser”.

Segundo Ilharco, não se trata simplesmente de discorrer sobre ele, mas de mostrá-lo na e como Linguagem, isto é, como lógos (2004, p. 21). Nessa linguagem originária, a palavra traz consigo o que se pensa. E Heráclito, enquanto pensa o princípio ordenador do mundo (..sµ..), pensa o ser. Ser este que, do ponto de vista ontológico, é o que confere à realidade a sua origem e a sua ordem. Dessa forma, esse não pode, por sua condição ontológica, ser determinado. Por conseguinte, o ser enquanto dito pela linguagem originária é, então, desvelado; mas des-velado aqui não é, e não se deve aproximar de determinado. É esse princípio que confere determinação às coisas e, é ele mesmo (enquanto princípio) que se oculta nessa determinação. Dessa forma, o que é pensado por Heráclito, ou seja, esse movimento de des-velamento (do ser das coisas) e velamento (do ser enquanto princípio de determinação) configura-se como a própria exposição da physis em seu caráter essencial enquanto princípio ordenador.
Tal perspectiva é inteiramente consistente com o argumento de Floridi de que a Filosofia da Informação possui um papel fundacional relativo à Ciência da Informação na medida em que “esta está primariamente preocupada com as fontes de informação e não com o conhecimento, pelo que a Filosofia da Informação, e não a Epistemologia, fala de informação”, explica no mesmo livro. Para ratificar essa posição, é preciso adentrar nos meandros da temática para que se possa efetivamente julgar os valores inseridos na relação entre Filosofia e informação. Na medida em que se apropria da questão “o que é a informação?”, fica patente que a Filosofia da Informação, não está naturalmente desamparada por outras Ciências, ela utiliza a crítica dos métodos, teorias e quadros conceituais que as Ciências da Informação, da Comunicação e da Computação desenvolveram ao longo dos tempos. Essa é a questão por excelência fundadora de qualquer disciplina filosófica (o que é o ser? o que é o bem? o que é a verdade?) e um problema genuinamente propenso à investigação crítica e criativa, capaz de soluções diferentes e potencialmente irreconciliáveis, explica Floridi.

Nesse contexto, a pergunta mais radical e elementar, “o que é a informação?”, implica necessariamente uma resposta adequada e urgente, sem a qual a Ciência da Informação não passará nunca de um mero equívoco acadêmico e de um artifício corporativo a serviço de determinado grupo socioprofissional, assim como afirma Floridi.

FILOSOFIA E INFORMAÇÃO: A ONTOLOGIA DA INFORMAÇÃO 
A Filosofia da Informação é uma área relativamente nova e que está à procura de seu reconhecimento formal como um campo de pesquisa filosófica, mas ela possui um grande potencial que é proporcionar uma reflexão de base, sob uma mesma perspectiva de fundo – a informação –, sobre os pressupostos, os métodos, os problemas e as soluções de uma parte cada vez maior das atividades científicas, culturais, sociais e profissionais nas sociedades desenvolvidas, como lembra Ilharco emFilosofia da Informação: alguns problemas fundadores. 
Nesse sentido, Floridi delimita o campo dos estudos filosóficos acerca da informação, iniciando por contextualizá -lo historicamente, caracterizando-o como um campo novo e sugerindo que seja abarcado pela expressão Filosofia da Informação, definida por ele no artigo What is Philosophy of Information? Metaphilosophy nos seguintes termos: “(...) campo filosófico que se dedica a: a) investigação crítica da natureza conceitual e dos princípios básicos da informação, incluindo sua dinâmica, utilização e ciências, e b) elaboração e aplicação de metodologias teóricas e computacionais da informação a problemas filosóficos”.
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Várias definições que têm sido implementadas admitem a informação como mecanismo de interação entre os seres humanos
A FILOSOFIA DA INFORMAÇÃO É UMA ÁREA RELATIVAMENTE NOVA E QUE ESTÁ À PROCURA DE SEU RECONHECIMENTO FORMAL COMO UM CAMPO DE PESQUISA FILOSÓFICA
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A informação, como interação social, só existe em movimento. Desse modo, é preciso que haja um criador e um receptor, observando seu impacto social
Ilharco evidencia, em Filosofia da Informação, que “a problemática da informação emerge intrinsecamente ligada à expansão tecnológica mais rápida da história, a das tecnologias de informação e de comunicação (TIC)”. Se Floridi afirma que a Filosofia da Informação procura expandir a fronteira de pesquisa filosófica, visto que inclui novas áreas à sua investigação porque não coloca juntos tópicos preexistentes, proporcionando uma reordenação do cenário filosófico, para Ilharco, de uma forma determinada a Filosofia da Informação não se constitui como método da verdade, mas da dúvida. Ou seja, uma determinada postura que contempla uma realidade apropriada pelo ser humano, na qual o conhecimento tenta ser conhecimento e a Ciência tenta unicamente ser Ciência.

Seguindo essa perspectiva, pode-se afirmar que a Filosofia da Informação configura-se como primogênita na reflexão e nos questionamentos dos vários assuntos e fenômenos, como afirma Floridi: a Filosofia da Informação privilegia a informação como o seu tópico central, em detrimento da computação, porque ela analisa a última pressupondo a primeira. Por outro lado, a Filosofia da Informação trata a questão da computação apenas como um dos processos – e talvez o mais importante – em que a informação está envolvida. Dessa forma, essa área deve ser tomada como Filosofia da Informação, e não apenas definida em sentido estrito como Filosofia da Computação, tal como a Epistemologia é a Filosofia do Conhecimento e não apenas a Filosofia da Percepção, menciona Floridi citando Ilharco.
Seria possível uma visibilidade conceitual e ontológica sobre toda a informação produzida e consumida?
Se realmente for assim, compreende-se como atribuição da Filosofia da Informação o modo de conceber a informação pela episteme, penetrando 
com
 certa profundidade em conceitos sobre o que é a informação propriamente dita. Para tanto, se é necessário e relevante pensar dessa forma, também essa configuração de pensamento pode ocasionar certo contraste, na medida em que não se preocupa em observar e questionar o que está aparente, o que é visível, ou seja, a informação de forma propagável, mas sim em realizar algumas indagações do tipo “de onde essa informação surgiu?”, “como ela se deu?” e “por quem ela se deu?”, o que nos faz perceber a importância do conceito antes do conceito, ou seja, a Epistemologia. Segundo Ilharco, “no que diz respeito à Epistemologia, encontramos no extremo esquerdo dessa matriz metodológica as posições que defendem de uma forma radical a natureza eminentemente subjetiva, localizada e centrada no indivíduo do conhecimento”.

Sobre essa questão, Ilharco exprime-se com mais propriedade dessa forma: “O problema epistemológico – em termos epistemológicos, isto é, no domínio do tipo e das características do conhecimento que poderemos procurar obter e eventualmente dominar sobre o fenômeno informação, o que, por isso, dependerá necessa-riamente do tipo de pressupostos ontológicos em que assentar a investigação, a questão que primeiro se coloca é verdadeiramente surpreendente. Como pensar e refletir sobre a forma como procurar conhecimento – qualquer que seja o modo como entendamos esse tipo de conhecimento – sem antes esclarecer a natureza da própria informação que acedemos, precisamente na tentativa de ganhar conhecimento? Ao colocar a questão epistemológica, a questão da natureza do conhecimento, sem ter endereçado a natureza da informação, terá a Filosofia dado um pulo demasiado longo? Terá a Filosofia esquecido a questão da informação ao ter avançado para a questão do conhecimento? Será possível pensar a Epistemologia sem pensar a informação? Essas questões são tão novas e revolucionárias que poderão mesmo vir a contribuir para a emergência de um novo paradigma intelectual, filosófico e científico”, afirma em Filosofia da Informação: alguns problemas fundadores. 

AS SOCIEDADES MAIS AVANÇADAS BASEIAM A COMUNICAÇÃO ENTRE AS PESSOAS E AS INSTITUIÇÕES EM INFORMAÇÃO GERADA E GERIDA POR TECNOLOGIAS DE INFORMAÇÃO
NA PERSPECTIVA 
de Parmênides, o conhecer acontece na medida em que se alcança o idêntico, o imutável. Os sentidos oferecem a imagem de um mundo em incessante mudança, num fluxo perpétuo, onde nada permanece idêntico a si mesmo
É mediante esse sentido que Ilharco menciona, no mesmo texto, que o “que há de novo na Filosofia da Informação, e por isso a sua maior força e promessa, é a possibilidade de, sob um mesmo paradigma, não apenas no âmbito de uma mesma teoria ou proposta ontológica ou epistemológica, mas sob uma mesma perspectiva de fundo, a da informação, poder proporcionar a reflexão fundamental e crítica sobre os pressupostos, os métodos, as investigações, as descobertas, as dúvidas, os problemas e as soluções, de uma cada vez maior parte das atividades cientificas, comunicacionais, tecnológicas, culturais, sociais e profissionais das sociedades desenvolvidas”.

Diante do que foi mencionado, Ilharco tece as seguintes considerações: “As sociedades contemporâneas mais avançadas baseiam as suas atividades, a comunicação entre as pessoas e as instituições em informação gerada e gerida por tecnologias de informação. Esse desenvolvimento tem provocado alterações importantes em termos políticos, sociais, econômicos e ambientais”. Desse modo, pode-se dizer que a Filosofia da Informação é assim um projeto destinado a consolidar uma área de investigação autônoma, por isso versando sobre questões originadas e relacionadas à emergência da denominada sociedade da informação. Em termos mais gerais, a Filosofia da Informação nada mais é do que uma colocação filosófica, sem pressupostos, como rigor e radicalidade da questão da informação. Em outras palavras, trata-se de uma tentativa de pensar filosoficamente a informação. Para tanto, propõe-se como base as seguintes indagações, segundo a óptica de Ilharco: O que é informação? O que é a informação? Quais são as dinâmicas e modos de ser da informação? O que distingue a informação de outros fenômenos a ela associados, como, por exemplo, os dados, o conhecimento, a ação, as ideias, as noções, o ser, a diferença? A sociedade da informação é a sociedade de quê?
Diante de tais indagações, Ilharco conceitua a Filosofia da Informação sob dois aspectos que merecem ser lembrados: “a) a investigação crítica da natureza conceitual e dos princípios de base da informação, incluindo as suas dinâmicas, especialmente a computação e o fluxo informacional, a sua utilização e as suas ciências; b) a elaboração de metodologias teóricas informacionais e computacionais e a aplicação dessas a problemas filosóficos”.
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O filósofo italiano Luciano Floridi é pioneiro nas investigações acerca da Filosofia da Informação

Conceituar a Filosofia da Informação por esses aspectos evidencia vantagens e desvantagens, afirma Ilharco, pois a “sua grande vantagem é a de ter identificado clara e simplesmente a questão fundadora da área: a natureza da informação. O seu principal defeito, quanto a nós, é o de tentar detalhar demasiado a ideia central, chave e aglutinadora dessa nova área do conhecimento. Desse modo, a segunda parte da definição é problemática porque a elaboração e a utilização de metodologias teóricas informacionais e computacionais na investigação filosófica, e obviamente científica, é um dos problemas, uma das várias áreas de investigação da própria Filosofia da Informação. Nesse viés, a tecnologia de informação ao serviço da atividade intelectual do homem é uma das questões centrais da Filosofia da Informação, porventura uma das mais relevantes.
É impossível separar o conceito de sociedade do conceito de informação, pois não existe sociedade que se estrutura sem informação
Diante dessa afirmativa, Ilharco menciona em Filosofia da Informação: alguns problemas fundadores: “Questionar em termos fundamentais o que é a informação é algo semelhante a questionarmos o que é o homem ou o que é conhecimento. Trata-se de questões primeiras, de base e por isso fundadoras do entendimento mais decisivo quanto ao tipo de ser que somos. Nunca, nem sobre a informação, sobre
o homem ou no que se refere ao conhecimento existiram noções ou definições universais e consensualmente aceitas”.

Mediante tais questões, percebe-se o quanto é relevante o empreendimento de uma reflexão estruturada em torno da Filosofia da Informação, propondo-se uma espécie de desafio a toda essa crescente e esmagadora ambição da sociedade da informação. Enquanto ambientes sociais destinam sua atenção para o aspecto positivo dela, requer-se para a qualidade da informação, em seu contexto geral, desde sua criação até sua difusão, um pensar que exija transformação de padrões e escalas morais, fazendo de fato refletir prioritariamente sobre as questões essenciais da informação, discutindo profundamente a sua episteme, tornando possível uma retomada da visibilidade conceitual e ontológica sobre a informação gerada e consumida na sociedade contemporânea.
REFERÊNCIAS
CASTELLS, M. A galáxia da internet: reflexões sobre a internet, os negócios e a sociedade. Rio de Janeiro: Zahar, 2003.
_____. A sociedade em rede. 8. ed. São Paulo: Paz e Terra, 2005 (A era da informação: Economia, sociedade e cultura, volume I).
CAPURRO, R.; HJØRLAND, B. The concept of information. Annual Review of Information Science & Technology, v. 37, p. 343-411, 2003.
FLORIDI, L.Information: a very short introduction. New York: Oxford University Press, 2010.
_____. What is Philosophy of Information? Metaphilosophy, v. 33,
n. 1/2, p. 123-145, 2002. Disponível em: <http://www.wolfson.ox.ac. uk/~floridi>. Acesso em: 14 out. 2010.
ILHARCO, F. Filosofia da Informação: uma introdução à informação como fundação da acção, da comunicação e da decisão. Lisboa: Universidade Católica Editora, 2003.
_____. Filosofia da Informação: alguns problemas fundadores. In: III SOPCOM,VI LUSOCOM e II IBÉRICO, v. 2, 2004.
MATTELART, A. História da sociedade da informação. São Paulo: Loyola, 2002.

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