Texto de Introdução à Filosofia


Filosofia
Texto escrito/editado por: Aureliano, José Osmando, Carlos Filipe
Colégio Marista Dom Silvério - Retirado do site: http://filipebh.sites.uol.com.br/

Sofia
"A verdadeira filosofia é reaprender a ver o mundo" Merleau - Ponty

Etimologia: a palavra "filosofia" aparece na Grécia do séc. VI a.C. Nos escritos de Pitágoras, que não querendo definir-se como "sábio" (em grego: SHOPOS) prefere autodeterminar-se "Filos-sophos" ou seja, amante do saber, aquele que busca a sabedoria. No séc. V a.C., o filósofo Heráclito define melhor o conceito original do vocábulo FILOSOFIA, como "a busca da compreensão da realidade total", em todas as suas formas, de maneira sistemática e disciplinada.

O trabalho filosófico é essencialmente teórico. Mas isto não quer dizer que a Filosofia seja puro logos, pura razão, à margem do mundo; muito menos, que seja um corpo de doutrina acabado, com determinado conteúdo fixo. É um processo sempre dinâmico de apreensão das significações históricas da realidade humana. A Filosofia é a procura amorosa da verdade.
Para Sócrates, uma vida que não é examinada não merece ser vivida. Isto nos diz que o filosofar é preocupar-se com os princípios primeiros de nossa existência e da realidade total. O refletir do homem sobre estas questões o tornava "filósofo".


O Nascer do Filosofar
A atitude de "filosofar" nasce, primeiramente, a partir de nossa inquietação, que acende em nós o desejo de ver e conhecer. Em segundo lugar, através da admiração, pois é a condição de onde deriva a capacidade de problematizar, compreender e construir. Isso caracteriza a Filosofia não como posse da verdade, mas como busca humildade, constante e dinâmica da essência da vida. Em terceiro lugar, a Filosofia nasce a partir do sentimento de angústia o ser que somos se revelas naquilo que ele é em sua originalidade: nada, abertura, pura possibilidade. Essa abertura à transcendência, coloca o homem / mulher diante de si mesmo como projeto, tarefa a realizar. Neste sentido, buscarse-á a essências da vida.
Para Kant, filósofo alemão do séc XVIII, "não há filosofia que se possa aprender; só se pode aprender a filosofar". Isto significa que a Filosofia é sobretudo uma atitude, um pensar permanente. É um conhecimento instituinte, pois questiona o saber instituído.
O pensar filosófico é um pensar a trama dos conhecimentos do cotidiano. Por isso, a Filosofia se encontra no seio da história. No entanto, está, simultaneamente, mergulhada no mundo e fora dele: eis o paradoxo enfrentado pelo filósofo. O filósofo inicia a caminhada a apartir dos problemas da existência, mas precisa afastar-se deles, consciente e criticamente, para melhor compreendê-los, retornando, depois, a fim de propiciar subsídios para as mudanças.
Somos filósofos quando nos colocamos a pensar a realidade circundante, de maneira crítica e responsável. Assim, exercendo-nos, neste momento, no ato de filosofar, percebemos que a Filosofia tem sido, ao longo da história, fator de crítica e ensaio de alternativas para uma vivência humana mais harmônica e equilibrada. Por isso mesmo, tem incomodado a muitos. A história registra muitas tentativas em destruí-la, desqualificá-la, negá-la. Os tiranos, os mistificadores, os dominadores, e todos os interessados na alienação e mediocridade do povo preferem uma consciência de rebanho, de fácil manipulação, cativa e obediente, a um questionamento sistemático e profundo sobre a realidade. Não foram poucos os filósofos que pagaram com a vida ou a perda da liberdade a ousada postura de filosofar sobre o seu tempo.
Cabe a nós o exercício do "filosofar", isto é, apreender de forma significativa a nossa cultura; a leitura crítica da realidade; e a práxis transformadora do mundo. Assim, a Filosofia não é somente interpretação do mundo, mas o projeto de transformação do homem / mulher, ele é política e ética.
A Filosofia surge quando se põe em jogo o pensar, tornando-se objeto dereflexão (reflectere = "fazer retroceder", "voltar atrás"). Por isso o filósofo é o homem / mulher que conhece a história do pensamento, sua evolução, involução, crise, avanços... Neste sentido a reflexão filosófica adquire características específicas.

O Conhecimento Filosófico
A filosofia não é um conjunto de conhecimentos prontos ou um sistema fechado em si mesmo. Ela é um modo de pensar, uma atitude, uma postura diante do mundo, descobrindo os significados mais profundos. A Filosofia é uma prática de vida que, de forma refletida, busca pensar os acontecimentos do cotidiano além de sua pura aparência. Assim sendo, ela pode e deve considerar todo e qualquer objeto. Pode considerar a ciência, a religião, a arte, uma história em quadrinhos ou uma canção popular.
A Filosofia, portanto, parte do que existe, crítica, questiona, vislumbra possibilidades, faz-nos entrever outros mundo e outros modos de compreender a vida.
Características do Pensamento Filosófico

A Filosofia é uma atividade humana indispensável, uma vez que a estrutura e a essência da realidade não se manifestam direta e indiretamente. Nesse sentido, a Filosofia é uma reflexão sistemática e crítica que objetiva captar a "coisa em si", a estrutura oculta, o modo de ser existente.
Para que a reflexão seja filosófica, é preciso que haja criticidade. Crítica é a arte de julgar e discenir o valor. Criticar e, portanto, ter o cuidado de,com rigor, saber estabelecer critérios. Além da criticidade, é precisoradicalidade, ou seja, buscar a raiz, a origem, os fundamentos. Negativamente, em sentido contrário, estamos falando em oposição a uma consciência ingênua, que não é radial, não ai às raízes.
A reflexão filosófica é como a raiz de uma planta que se lança em busca de sempre maior profundidade. Outra característica do pensamento filosófico é a totalidade, ou seja, considera os problemas entre o de um conjunto de fatos e valores relacionados entre si. A reflexão filosófica contextualiza os problemas.
A Filosofia é, portanto, a crítica da ideologia, (enquanto forma ilusória de conhecimento que visa a manutenção de privilégios). Olhando refletidamente pura a etimologia do vocábulo grego que corresponde àverdade (a-létheia, a-letheúein, "desnudar"), vemos que a verdade é por a nu aquilo que está escondido, e ai reside a vocação do filósofo: o desvelamento do que está encoberto pelos costumes, pelo convencional, pelo poder.

Ceticismo e Dogmatismo em Filosofia
Para filosofar não podemos manter nenhuma atitude cética nem sua contrapartida, uma atitude dogmática, perante o mundo humano. Precisamos estar ciente de que todo conhecimento e certeza é sempre histórico, situado dentro de uma cultura, inserido num contexto.
Ordinariamente, a atitude cética é aquela que desconfia de tudo. Uma pessoa com atitude cética é aquela que não mais acredita em suas potencialidades.
Filosoficamente, porém, dá-se o nome de ceticismo à corrente de pensamento que duvida de toda e qualquer possibilidade de se chegar ao conhecimento verdadeiro. Assim, a pessoa seria incapaz de aprender o objeto de conhecimento.
A atitude cética é típica das épocas de crise, quando verdades estabelecidas são destruídas, sem que se tenha, ainda, estabelecido novos princípios sobre os quais fundamentar o conhecimento e as ações. Duvida-se de tudo.
dogmático, ao contrário, no sendo comum, é a pessoa que acredita ter a posse da verdade e se recusa ao diálogo, não admitindo nenhum questionamento de seu as certezas.
Filosoficamente, dá-se o nome de dogmatismo à doutrina ou atitude que afirma, de forma absoluta, a capacidade humana de chegar as verdades seguras, através do uso exclusivo da razão. É devido a essa crença cega na razão que faz com que o dogmático não admita discussões.

A Filosofia e a Ciência
No começo, a ciência estava ligada à Filosofia, sendo o filósofo o sábio que refletia sobre todos os setores da indagação humana. Era comum encontrar filósofos que fossem geômetras e físicos, e escrevessem sobre astronomia.
Na ordem do saber, construída por Platão, o homem/mulher começa a conhecer pela forma imperfeita da opinião, depois passa ao grau mais avançado da ciência, para só então ser capaz de atingir o nível mais alto do saber filosófico.
A partir do séc. XVIII, a revolução metodológica iniciada por Galileu promove a autonomia da ciência e o ser desligamento da Filosofia. Aos poucos o saber vai se fragmentando, dando origem às ciências particulares. Com a fragmentação do saber, cada ciência se ocupa de um objeto específico.
O confronto dos resultados e sua verificabilidade permitem uniformidade de conclusões e, portanto, certa objetividade.
Impõe-se, naturalmente, uma questão: o que resta à Filosofia, se, ao longo do tempo, foi "esvaziada" do seu conteúdo pelo aparecimento das ciências particulares, tornadas independentes?
Essencialmente, a Filosofia continua tratando da mesma realidade apropriada pelas ciências. Apenas que as ciências se especializam e observam "recortes" do real, enquanto a Filosofia jamais renuncia a considerar o seu objeto ponto de vista da totalidade. A visão da Filosofia é de conjunto, ou seja, o problema tratado nunca é examinado de modo parcial, mas relacionado cada e aspecto com os outros do contexto em que está inserido.
Se a ciência tende cada vez mais para a especialização, a Filosofia, no sentido inverso, quer superar a fragmentação do real, para que o homem seja resgatado na sua integridade e não sucumba à alienação do saber parcelado. Por isso a Filosofia tem uma função de interdisciplinaridade, estabelecendo o elo entre as diversas formas do saber e do agir.
A Filosofia ainda se distingue da ciência pelo modo como aborda seu objeto: em todos os setores do conhecimento e da ação. Ela está presente como reflexão crítica a respeito dos fundamentos desse conhecimento e desse agir.
Concluindo, a Filosofia não faz juízos de realidade, como ciência, mas juízos de valor. Não vê apenas como é, mas como deveria ser. Julga o valor da ação, busca sua significação. Filosofar é proporcionar sentido à experiência.

Os Mitos da Ciência
O iluminismo do séc. XVIII, exaltou a capacidade humana de conhecer o mundo por meio da ciência, considerada expressão de rigor, objetividade, previsibilidade. Pela chamada ciência o homem/mulher podia espantar o medo causado pela ignorância e superstição, guardando a esperança d e um mundo onde as luzes da razão permitiram a melhor qualidade de vida possível e a emancipação dos preconceitos, da violência, da pobreza e do arbítrio.
No entanto, percebemos sombras, riscos e desvios nesta maneira de compreender. Já no séc. XIX, o Positivismo valorizava exageradamente o conhecimento científico, excluindo outras formas de abordagem do real tais como o mito, a religião, e mesmo a Filosofia, consideradas expressões inferiores e superadas da experiência humana. Mas esta exclusão é arbitrária e mutiladora, e significa na verdade um reducionismo:
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 reduz o objetivo próprio das ciências à natureza observável, no fato positivo;
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 reduz as ciências humanas às ciências da natureza.
Portanto, a preocupação positivista de tudo reduzir ao racional redunda no seu oposto, ou seja, na criação de mitos. O Positivismo cria o mito do cientificismo, segundo o qual o único conhecimento perfeito é o científico.
Outras conseqüências surgem daí. Imbuído no ideal cientificista, existe omito do progresso. O progresso é explicada como um fenômeno linear, cuja tendência automática é o aperfeiçoamento humano. Por isso o ideal do progresso justificaria todas as ações do homem / mulher realizadas em seu nome. Mas infelizmente já conhecemos as conseqüências...
Outra decorrência do cientificismo e da exaltação do progresso é o mito da tecnocracia. Passamos a viver em um mundo onde a palavra definitiva é sempre dada aos técnicos e aos administradores competentes.
Cria-se, assim, o
 mito do especialista, segundo o qual apenas certas pessoas têm competências em determinados setores específicos.
Portanto, são essas as sombras da herança iluminista. A ciência e a tecnologia, mesmo que sejam expressões da racionalidade, produzem contraditoriamente, efeitos irracionais e perversos, já que a razão é posta a serviço da destruição da natureza, da alienação humana e da dominação.

A "Utilidade" da Filosofia
Sua utilidade está no fato de que, por meio da reflexão a Filosofia permite ao homem / mulher o distanciamento necessário para a avaliação dos fundamentos dos atos humanos. E dos fins a que eles se destinam; reúne o pensamento fragmentado da ciência e o reconstrói na sua unidade. A Filosofia é, assim, a possibilidade da transcendência humana, ou seja, a capacidade que só o homem / mulher tem de separar a situação dada e não-escolhida.
Pela transcendência, o homem/mulher surge como ser de projeto, capaz de liberdade e de construir o seu futuro. A função do filosofar é promover a arte da vida, em seu dinamismo constante. A Filosofia impede a estagnação.
Papel da Filosofia
A partir da fragmentação do saber e das ciências, surgiu uma visão de mundo construída em cima de uma visão de mundo profundamente utilitarista, fechando o espaço para a Filosofia que, aparentemente "não serve para nada".
Mas a desprezada Filosofia encontra-se nos pressupostos da ciência, já que a própria ciência não é capaz de investigar seus fundamentos.
Outra função da Filosofia é estabelecer a interdisciplinaridade dos diversos campos de saber formados a partir da fragmentação é que o homem / mulher se torna o grande ausente da ciência.
A reflexão empreendida pela Filosofia tem um compromisso com a investigação a propósito dos fins e das prioridades a que a ciência se propõe, bem como a análise das condições em que se realizem as pesquisas e das conseqüências das técnicas utilizadas.




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