A atitude de "filosofar" nasce,
primeiramente, a partir de nossa inquietação, que acende em nós
o desejo de ver e conhecer. Em segundo lugar, através da admiração, pois é a condição de onde deriva a capacidade
de problematizar, compreender e construir. Isso caracteriza a Filosofia não
como posse da verdade, mas como busca humildade, constante e dinâmica da essência da vida. Em terceiro lugar, a
Filosofia nasce a partir do sentimento de angústia o ser que somos se revelas
naquilo que ele é em sua originalidade: nada, abertura, pura possibilidade.
Essa abertura à transcendência, coloca o homem / mulher diante de si mesmo
como projeto, tarefa a realizar. Neste sentido, buscarse-á a essências da
vida.
Para Kant, filósofo alemão do séc XVIII, "não há filosofia que se possa aprender; só se pode aprender a
filosofar". Isto significa que a Filosofia é sobretudo uma
atitude, um pensar permanente. É um conhecimento instituinte, pois questiona
o saber instituído.
O pensar filosófico é um pensar a trama dos conhecimentos do cotidiano. Por
isso, a Filosofia se encontra no seio da história. No entanto, está,
simultaneamente, mergulhada no mundo e fora dele: eis o paradoxo enfrentado
pelo filósofo. O filósofo inicia a caminhada a apartir dos problemas da
existência, mas precisa afastar-se deles, consciente e criticamente, para
melhor compreendê-los, retornando, depois, a fim de propiciar subsídios para
as mudanças.
Somos filósofos quando nos colocamos a pensar a realidade circundante,
de maneira crítica e responsável. Assim, exercendo-nos, neste momento, no ato
de filosofar, percebemos que a Filosofia tem sido, ao longo da história,
fator de crítica e ensaio de alternativas para uma vivência humana mais
harmônica e equilibrada. Por isso mesmo, tem incomodado a muitos. A história
registra muitas tentativas em destruí-la, desqualificá-la, negá-la. Os
tiranos, os mistificadores, os dominadores, e todos os interessados na
alienação e mediocridade do povo preferem uma consciência de rebanho, de
fácil manipulação, cativa e obediente, a um questionamento sistemático e
profundo sobre a realidade. Não foram poucos os filósofos que pagaram com a
vida ou a perda da liberdade a ousada postura de filosofar sobre o seu tempo.
Cabe a nós o exercício do "filosofar", isto é, apreender de
forma significativa a nossa cultura; a leitura crítica da realidade; e a
práxis transformadora do mundo. Assim, a Filosofia não é somente
interpretação do mundo, mas o projeto de transformação do homem / mulher, ele
é política e ética.
A Filosofia surge quando se põe em jogo o pensar, tornando-se objeto
dereflexão (reflectere = "fazer retroceder", "voltar
atrás"). Por isso o filósofo é o homem / mulher que conhece a história do pensamento, sua evolução,
involução, crise, avanços... Neste sentido a reflexão filosófica adquire características
específicas.
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O Conhecimento
Filosófico
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A filosofia não é um conjunto de conhecimentos prontos ou um sistema
fechado em si mesmo. Ela é um modo de pensar, uma atitude, uma postura diante
do mundo, descobrindo os significados mais profundos. A Filosofia é uma
prática de vida que, de forma refletida, busca pensar os acontecimentos do
cotidiano além de sua pura aparência. Assim sendo, ela pode e deve considerar
todo e qualquer objeto. Pode considerar a ciência, a religião, a arte, uma
história em quadrinhos ou uma canção popular.
A Filosofia, portanto, parte do que existe, crítica, questiona, vislumbra
possibilidades, faz-nos entrever outros mundo e outros modos de compreender a
vida.
Características do Pensamento Filosófico
A Filosofia é uma atividade humana indispensável, uma vez que a estrutura e a
essência da realidade não se manifestam direta e indiretamente. Nesse
sentido, a Filosofia é uma reflexão sistemática e crítica que objetiva captar
a "coisa em si", a estrutura oculta, o modo de ser existente.
Para que a reflexão seja filosófica, é preciso que haja criticidade. Crítica é a arte de julgar e discenir o valor.
Criticar e, portanto, ter o cuidado de,com rigor, saber
estabelecer critérios. Além da criticidade, é precisoradicalidade,
ou seja, buscar a raiz, a origem, os fundamentos. Negativamente, em sentido
contrário, estamos falando em oposição a uma consciência ingênua, que não é
radial, não ai às raízes.
A reflexão filosófica é como a raiz de uma planta que se lança em
busca de sempre maior profundidade. Outra característica do pensamento
filosófico é a totalidade, ou seja,
considera os problemas entre o de um conjunto de fatos e valores relacionados
entre si. A reflexão filosófica contextualiza os problemas.
A Filosofia é, portanto, a crítica da ideologia, (enquanto forma
ilusória de conhecimento que visa a manutenção de privilégios). Olhando
refletidamente pura a etimologia do vocábulo grego que corresponde àverdade
(a-létheia, a-letheúein, "desnudar"), vemos que a verdade é por a nu aquilo que está
escondido, e ai reside a vocação do filósofo: o desvelamento do que está
encoberto pelos costumes, pelo convencional, pelo poder.
Ceticismo e Dogmatismo em Filosofia
Para filosofar não podemos manter nenhuma atitude cética nem sua
contrapartida, uma atitude dogmática, perante o mundo humano. Precisamos
estar ciente de que todo conhecimento e certeza é sempre histórico, situado
dentro de uma cultura, inserido num contexto.
Ordinariamente, a atitude cética é aquela que desconfia de tudo. Uma pessoa
com atitude cética é aquela que não mais acredita em suas potencialidades.
Filosoficamente, porém, dá-se o nome de ceticismo à corrente
de pensamento que duvida de toda e qualquer possibilidade de se chegar ao
conhecimento verdadeiro. Assim, a pessoa seria incapaz de aprender o objeto
de conhecimento.
A atitude cética é típica das épocas de crise, quando verdades
estabelecidas são destruídas, sem que se tenha, ainda, estabelecido novos
princípios sobre os quais fundamentar o conhecimento e as ações. Duvida-se de
tudo.
O dogmático, ao
contrário, no sendo comum, é a pessoa que acredita ter a posse da verdade e
se recusa ao diálogo, não admitindo nenhum questionamento de seu as certezas.
Filosoficamente, dá-se o nome de dogmatismo à doutrina
ou atitude que afirma, de forma absoluta, a capacidade humana de chegar as
verdades seguras, através do uso exclusivo da razão. É devido a essa crença
cega na razão que faz com que o dogmático não admita discussões.
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A Filosofia e a
Ciência
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No começo, a ciência estava ligada à Filosofia,
sendo o filósofo o sábio que refletia sobre todos os setores da indagação
humana. Era comum encontrar filósofos que fossem geômetras e físicos, e
escrevessem sobre astronomia.
Na ordem do saber, construída por Platão, o homem/mulher começa a
conhecer pela forma imperfeita da opinião, depois passa ao grau mais avançado da ciência, para só então ser capaz de atingir o nível mais
alto do saber
filosófico.
A partir do séc. XVIII, a revolução metodológica iniciada por Galileu
promove a autonomia
da ciência e o ser desligamento da Filosofia. Aos
poucos o saber vai se fragmentando, dando origem às ciências particulares.
Com a fragmentação do saber, cada ciência se ocupa de um objeto específico.
O confronto dos resultados e sua verificabilidade permitem
uniformidade de conclusões e, portanto, certa objetividade.
Impõe-se, naturalmente, uma questão: o que resta à Filosofia, se, ao
longo do tempo, foi "esvaziada" do seu conteúdo pelo aparecimento
das ciências particulares, tornadas independentes?
Essencialmente, a Filosofia continua tratando da mesma realidade
apropriada pelas ciências. Apenas que as ciências se especializam e observam
"recortes" do real, enquanto a Filosofia jamais renuncia a
considerar o seu objeto ponto de vista da totalidade. A visão da Filosofia é de conjunto, ou seja, o
problema tratado nunca é examinado de modo parcial, mas relacionado cada e
aspecto com os outros do contexto em que está inserido.
Se a ciência tende cada vez mais para a especialização, a Filosofia,
no sentido inverso, quer superar a fragmentação do real, para que o homem
seja resgatado na sua integridade e não sucumba à alienação do saber
parcelado. Por isso a Filosofia tem uma função de interdisciplinaridade, estabelecendo o elo entre as diversas formas do
saber e do agir.
A Filosofia ainda se distingue da ciência pelo modo como aborda seu objeto: em todos os setores
do conhecimento e da ação. Ela está presente como reflexão crítica a
respeito dos fundamentos desse conhecimento e desse agir.
Concluindo, a Filosofia não faz juízos de realidade, como ciência, mas
juízos de valor. Não vê apenas como é, mas como deveria ser. Julga o valor da
ação, busca sua significação. Filosofar é proporcionar sentido à experiência.
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Os Mitos da Ciência
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O
iluminismo do séc. XVIII, exaltou a capacidade humana de conhecer o mundo por
meio da ciência, considerada expressão de rigor, objetividade,
previsibilidade. Pela chamada ciência o homem/mulher podia espantar o medo
causado pela ignorância e superstição, guardando a esperança d e um mundo
onde as luzes da razão permitiram a melhor qualidade de vida possível e a
emancipação dos preconceitos, da violência, da pobreza e do arbítrio.
No entanto, percebemos sombras, riscos e desvios
nesta maneira de compreender. Já no séc. XIX, o Positivismo valorizava
exageradamente o conhecimento científico, excluindo outras formas de
abordagem do real tais como o mito, a religião, e mesmo a Filosofia,
consideradas expressões inferiores e superadas da experiência humana. Mas esta
exclusão é arbitrária e mutiladora, e significa na verdade um reducionismo:
reduz o objetivo próprio das ciências à natureza observável, no fato
positivo;
reduz as ciências humanas às ciências da natureza.
Portanto, a preocupação positivista de tudo
reduzir ao racional redunda no seu oposto, ou seja, na criação de mitos. O
Positivismo cria o mito do cientificismo, segundo o qual o único conhecimento perfeito é o científico.
Outras conseqüências surgem daí. Imbuído no ideal
cientificista, existe omito do progresso. O progresso é explicada como um fenômeno linear, cuja tendência
automática é o aperfeiçoamento humano. Por isso o ideal do progresso
justificaria todas as ações do homem / mulher realizadas em seu nome. Mas
infelizmente já conhecemos as conseqüências...
Outra decorrência do cientificismo e da exaltação
do progresso é o mito da tecnocracia. Passamos a viver em um mundo onde a palavra definitiva é sempre dada
aos técnicos e aos administradores competentes.
Cria-se, assim, o mito do especialista, segundo o qual apenas certas pessoas têm competências em
determinados setores específicos.
Portanto, são essas as sombras da herança
iluminista. A ciência e a tecnologia, mesmo que sejam expressões da
racionalidade, produzem contraditoriamente, efeitos irracionais e perversos,
já que a razão é posta a serviço da destruição da natureza, da alienação
humana e da dominação.
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A
"Utilidade" da Filosofia
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Sua utilidade está no fato de que, por meio da
reflexão a Filosofia permite ao homem / mulher o distanciamento necessário
para a avaliação dos fundamentos dos atos humanos. E dos fins a que eles se
destinam; reúne o pensamento fragmentado da ciência e o reconstrói na sua
unidade. A Filosofia é, assim, a possibilidade da transcendência humana, ou
seja, a capacidade que só o homem / mulher tem de separar a situação dada e
não-escolhida.
Pela transcendência, o homem/mulher surge como ser de projeto, capaz
de liberdade e de construir o seu futuro. A função do filosofar é promover a
arte da vida, em seu dinamismo constante. A Filosofia impede a estagnação.
Papel da Filosofia
A partir da fragmentação do saber e das ciências, surgiu uma visão de
mundo construída em cima de uma visão de mundo profundamente utilitarista,
fechando o espaço para a Filosofia que, aparentemente "não serve para
nada".
Mas a desprezada Filosofia encontra-se nos pressupostos da ciência, já
que a própria ciência não é capaz de investigar seus fundamentos.
Outra função da Filosofia é estabelecer a interdisciplinaridade dos diversos
campos de saber formados a partir da fragmentação é que o homem / mulher se
torna o grande ausente da ciência.
A reflexão empreendida pela Filosofia tem um compromisso com a
investigação a propósito dos fins e das prioridades a que a ciência se
propõe, bem como a análise das condições em que se realizem as pesquisas e
das conseqüências das técnicas utilizadas.
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