Projeto: Tv Filosofia

Tv Filosofia 2013






Vídeo Bônus: O Demônio do Zíper

Tv Filosofia 2012

Neste 3º Bimestre as turmas de 2º Ano elaboraram vídeos para a nossa "Tv Filosofia". Excelentes trabalhos foram apresentados. Abaixo, segue uma amostra do que foi feito no trabalho. De antemão gostaria de parabenizar os grupos pelo empenho, criatividade e envolvimento no trabalho. Parabéns a todos!

Turma 210: Quem é o maior filósofo de todos os tempos?
Trabalho realizado pelos alunos: Danielle, Ana Paula, Patrick, Fernando, Morgana e Kamilla. 

Turma 201: Sofisticados
Trabalho de elaborado pelo grupo: Andre, Brenda, Gabriel, Ikaro, Nagila e Ygor.

Turma 201: O que é Felicidade?
Trabalho elaborado pelo grupo: Ana Karolina, Douglas Miranda, Lais Neiva, Larissa Matias, Natane Silva, Thays Boy e Bruno Rodrigues. 

Turma 202: Curta metragem - O Julgamento
Trabalho elaborado pelo grupo: Artur Freitas, Matheus Felipe, Fernanda Oliveira, Tainá Rodrigues, Adryelle Sinayder, Thainara Liberato. 

Turma 205: Ainoã Poubel apresenta - Game Show 
Trabalho elaborado pelo grupo: Ainoã Poubel, Jualiane, Aline, Camila Assis.

Turma 205: O que querem as pessoas?
Trabalho elaborado pelo grupo: Debora Moura, Thais Alvernaz, Angela Medeiros, Luana Lírio, Maxsuel Marx, Hebert Pêgo e Bruna Oliveira. 

Turma 206: Filo-Jogos Mortais
Trabalho apresentado pelo grupo: Natã, Áurea, Raphaela, Wesley, Paloma, Mariana Dias, Thalles

Turma 206: Jornal FDP - Filosofia Da Política
Trabalho elaborado pelo grupo: Lorrayne Silva, Érica Fernandes, Gabriel Cardoso, Mariana Souza e Eduardo Oliveira.

Turma 207: Filosofando em 5 minutos
Trabalho elaborado pelo grupo: Saymon Karisten, Jackeline Souza, Bryan Silva, Caroline Pereira, Sarah Juliana, Ana Luiza e Ana Carolina.

Turma 208: História da Filosofia - Felicidade
Trabalho elaborado pelo grupo: Esternanda Soares, Isabella Christina, Geisiane Souza, Júnia Miranda, Valéria e Kellen Batista. 

Parabenizo, de modo especial, os grupos que elaboraram os vídeos acima, tais trabalhos foram escolhidos como os melhores apresentados. Parabéns!

2 comentários:

1º Ano - Correção do Bloco de Atividades do 3º Bimestre

BLOCO DE ATIVIDADES (1ª PARTE)

QUESTÃO 01
Sobre a expressão cultural da filosofia no Ocidente, é INCORRETO afirmar que 

A) a atividade filosófica, enquanto abordagem racional, surge no contexto cultural grego, expressando-se inicialmente como tentativa de explicar a realidade do mundo sem recorrer à mitologia e à religião. 
B) a filosofia nasce na Grécia, no século V a.C., com os filósofos pré-socráticos, procurando encontrar o princípio do universo. 
Alguns vão explicar o mundo, apelando para uma arché, ou seja, o elemento constitutivo básico do qual a totalidade do universo seria constituída. 
C) Sócrates, Platão e Aristóteles são os pensadores clássicos da Grécia dos séculos V e IV a.C. e que constituíram a filosofia como metafísica, fornecendo os alicerces de toda a tradição filosófica do Ocidente.
D) é no contexto helenístico, universalizado pela ação político-administrativa dos romanos, que a filosofia grega vai se encontrar com o cristianismo. Desde o início da era cristã, pensadores ligados à nova religião estudaram o pensamento dos gregos e estabeleceram relações com ele, incorporando alguns elementos e rejeitando outros. 
(E) o projeto iluminista da filosofia, conduzido sob o mais exigente racionalismo, iniciou-se por duas grandes vias. De um lado, praticando-se uma filosofia acrítica, encarregada de superar a metafísica no plano teórico; de outro, criando uma nova forma de conhecimento, a religião, que substituiria o saber das essências pelo saber dos fenômenos. 

Justifique sua resposta: A alternativa E está incorreta, pois, no projeto iluminista da filosofia não se praticava uma filosofia “acrítica”, muito pelo contrário, e muito menos criando como nova forma de conhecimento a religião.

QUESTÃO 02
"A Filosofia é uma reflexão crítica a respeito do conhecimento e da ação, a partir da análise dos pressupostos do pensar e do agir e, portanto, como fundamentação teórica e crítica dos conhecimentos e das práticas."
(Fonte: MEC. Parâmetros Curriculares Nacionais do Ensino Médio Mais (PCN+EM)).
Sobre a reflexão crítica, assinale a alternativa INCORRETA. 

(A) A Filosofia indaga sobre o significado e realidade das coisas. 
(B) A Filosofia questiona como as coisas e a realidade se estruturam. 
(C) A Filosofia pergunta o que são as coisas, suas origens, causas e efeitos. 
(D) A Filosofia é um processo de reflexão, um "conhece-te a ti mesmo". 
(E) Para a Filosofia não é necessário compreender nossa capacidade de conhecer. 

Justifique sua resposta: O filósofo dá tamanha importância à razão e à capacidade de conhecer do homem que chega a afirmar que é impossível conhecer o bem e não fazê-lo.

QUESTÃO 03
Sobre os conceitos de Filosofia é INCORRETO afirmar: 
(A) Filosofia é um questionamento. O ser, os valores, as nossas ações, a capacidade de conhecimento e as possibilidades de atingir ou não uma verdade fazem parte destas indagações. 
(B) A palavra filosofia vem do grego e significa amor à sabedoria. Por isso temos que gostar de indagar, refletir e satisfazer nossa curiosidade. 
(C) A Filosofia tem a mesma função que as ciências. Ela tem utilidade prática. Por meio dela, se aprende a pensar sobre as questões que as ciências abordam. 
(D) A Filosofia não quer atingir um conhecimento certo, indubitável, válido para todas as épocas e todos os lugares. 
(E) A Filosofia busca analisar a realidade de forma crítica e racional.

Justifique sua resposta: A ciência e a filosofia surgem para desmistificar o mundo e as concepções até então construídas pela religião, pelos mitos e pelo senso comum.. Elas nascem juntas para deixar de lado as metáforas e as analogias e vão usar de um preceito básico: A demonstração através da racionalidade. Tanto que os cientistas antes eram chamados de filósofos. Mas, a partir do século XVII a Ciência se afasta da filosofia, e se aproxima da técnica. A ciência é empírica, experimental e metódica, a filosofia não tem essa preocupação. Para filosofar não é preciso necessariamente fazer experimentos e utilizar de determinados métodos como na ciência. Como também a ciência apresenta-se como um conhecimento totalmente claro e preciso enquanto a filosofia não. Ela se caracteriza mais pela liberdade em relação a esses preceitos que são indispensáveis na ciência.

QUESTÃO 04
Das alternativas abaixo, assinale a CORRETA.

(A) O pensamento mitológico é resultado do delírio humano, sendo uma forma de pensar exclusiva do mundo antigo. Como exemplos, podemos citar os mitos gregos: Zeus, Poseidon, Atena, Prometeu e Pandora. 
(B) A superação do mundo fenomênico se dá através do pensamento mítico, onde abstraímos as forças sobrenaturais e fantasiosas e as relacionamos com a realidade concreta. 
(C) O rompimento da atitude dogmática se dá no momento da aceitação do óbvio, do conservador e dos preconceitos. 
(D) Sendo renovador, o dogmatismo enquanto corrente filosófica, propõe a atualizar os conceitos do pensamento humano enquadrando-os de acordo com a necessidade contemporânea, possibilitando ao sujeito uma reflexão crítica sobre o pensamento. 
(E) A ideologia é uma expressão histórica e social, que segundo Marx, decorre do modo de produção vigente, sendo um conjunto de representações, imagens e ideias sobre os aspectos da vida humana. 

QUESTÃO 05
Sobre as estruturas de um mito é INCORRETO afirmar: 

(A) Mito é uma verdade para a civilização que o desenvolveu. 
(B) Na condição de uma explicação, o mito sempre se refere a uma coisa verdadeira, real e existente, apesar de, em si, ser fantasioso e fabulativo. 
(C) Mito é uma forma de explicação pré-racional e pré-científico. 
(D) O Mito é manifestado de forma totalmente racional ajudando a explicar o surgimento da filosofia.
(E) O mito é uma narrativa baseada na autoridade e confiabilidade do narrador.

Justifique sua resposta: A narração mitológica não foca na racionalidade, ela envolve basicamente acontecimentos supostos, relativos a épocas primordiais, ocorridos antes do surgimento dos homens (história dos deuses) ou com os "primeiros" homens (história ancestral). O verdadeiro objeto do mito é um conjunto de ocorrências fabulosas com que se procura dar sentido ao mundo.

QUESTÃO 06
O nascimento da reflexão filosófica na Grécia antiga está associado aos pensadores que antecederam a Sócrates, os chamados pré-socráticos. As questões fundamentais propostas por esses filósofos são de âmbito eminentemente:
(A) moral. 
(B) político. 
(C) cosmológico. 
(D) educacional. 
(E) religioso. 

Justificativa: foram considerados cosmologistas pois queriam entender o cosmos/universo. Buscavam uma explicação racional e sistemática sobre a origem, ordem e transformação da Natureza, da qual os seres humanos fazem parte, de modo que, ao explicar a Natureza, a Filosofia também explica a origem e as mudanças dos seres humanos.

QUESTÃO 07
 "A reflexão filosófica é o movimento pelo qual o pensamento, examinando o que é pensado por ele, volta-se para si mesmo como fonte desse pensamento"
(CHAUI, Marilena. Convite à Filosofia. São Paulo: Editora Ática, 2005, p. 20).
A esse respeito assinale a alternativa INCORRETA. 

(A) A reflexão filosófica é radical, isso significa que ela vai à raiz do problema. 
(B) A base da reflexão filosófica encontra-se exclusivamente no mundo objetivo, na realidade exterior dos homens. 
(C) Podemos dizer que a reflexão filosófica é o pensamento interrogando a si mesmo. 
(D) A reflexão filosófica é questionamento, "por quê?", "o quê?" e "para quê?". 
(E) A crítica faz parte do processo de reflexão filosófica. 

Justifique sua resposta: A base da reflexão filosófica não encontra-se exclusivamente no mundo objetivo, mas também na subjetividade e na realidade interior dos homens.

QUESTÃO 08
Segundo Jean Pierre Vernant, "fornecer a razão de um fenômeno não pode mais consistir em nomear o seu pai e sua mãe, em estabelecer a sua filiação. Se as realidades naturais apresentam uma ordem regular, não pode ser porque, um belo dia, o deus soberano, ao fim de seus combates, impôs-se às outras divindades como um monarca que reparte em seu reino os encargos, as funções, como uma lei imanente à natureza e presidindo, desde a origem à sua ordenação". Essa afirmação se refere à passagem do(a) 

(A) Mito para a Filosofia. 
(B) Caos ao Cosmos. 
(C) Teogonia para a Epistéme. 
(D) Filosofia ao Mito. 
(E) Physis à Aletheia. 

QUESTÃO 09
"A identidade pessoal é construída na trama das relações sociais, que permeiam sua existência cotidiana. Assim, há que se esforçar para que as relações entre os indivíduos se caracterizem por atitudes de respeito mútuo, representadas pela valorização de cada pessoa em sua singularidade, ou seja, nas características que a constituem"

(ARANHA, Maria Salete Fábio. Educação inclusiva: a fundamentação filosófica. Brasília: Ministério da Educação, Secretaria de Educação Especial, 2004, p. 08).

A esse respeito, assinale a alternativa CORRETA. 

(A) A relação recíproca entre indivíduo e sociedade é determinante para a formação da identidade. 
(B) A formação da identidade é apenas resultado de um processo subjetivo individual. 
(C) O reconhecimento das diversas identidades não se fundamenta no direito à igualdade e respeito às diferenças. 
(D) A formação da identidade é direcionada apenas pelo corpo social que molda o sujeito passivo. 
(E) O princípio de igualdade é irrelevante para a construção de uma sociedade democrática. 

QUESTÃO 10
A visão clássica do homem traz, em seu bojo, uma riqueza de múltiplas formas de expressão, entre as quais merece destaque a concepção antropológica presente na obra de Aristóteles. Um dos traços da antropologia aristotélica, que é essencial para que se tenha uma visão integral de sua concepção de homem, é 

(A) a estrutura do homem como reflexo da estrutura triádica da realidade superior (Uno - Inteligência - Alma), na qual o homem está inserido, concepção que se assenta no dualismo finalista da alma voltada para o inteligível ou para o corpo. 
(B) a teleologia do bem e do melhor, como via de acesso para a compreensão do mundo e do homem, e sobre a qual se funda a natureza ética da psyché. 
(C) a centralidade do problema do indivíduo, tratando-se de definir as condições de seu "viver feliz" (eudaimonia), e entre estas obtêm primazia aquelas que tomam o indivíduo como independente ou asseguram-lhe o senhorio de si mesmo (autárkeia). 
(D) o homem como ser de paixão e de desejo, traço presente tanto na descrição da estrutura da psyché, sede das paixões e do desejo, como na especificação de sua atividade, pois a vertente "irracional" da psyché intervém tanto na práxis ética e política, como na poíesis. 
(E) a unidade radical do ser do homem pensada numa perspectiva soteriológica, que se desdobra em três momentos articulados como momentos de uma história e de um itinerário da mente e da vontade. 

QUESTÃO 11
A origem da filosofia pode ser situada entre os séculos VI e V a.C. Considera-se que, nessa época, as palavras filosofia e filósofo não existiam e só depois passam a significar uma forma de postura e de leitura do mundo diferentes da que existia: a compreensão mítica. Assim, o ponto de partida da reflexão filosófica pode ser identificado a partir das pesquisas dos milésios Tales, Anaximandro e Anaxímenes. Eles se detiveram na compreensão da realidade a partir de um conceito-chave, a saber: 

(A) Aletheia 
(B) Physis 
(C) Cosmos 
(D) Uno 
(E) Sóphos 

Justificativa: Aquilo que une os filósofos pré-socráticos é a preocupação em perguntar e compreender a natureza do mundo (a physis). Queriam entender a origem, aquilo que originou todas as coisas, o princípio delas.

QUESTÃO 12
É bastante comum ouvirmos essa frase dos adultos: As crianças de hoje  já não brincam como as de antigamente. Dessa frase, podemos concluir que há  saudosismo da vida que deixamos para trás. Por isso, nunca é tarde para sabemos que as experiências e o conhecimento nos fazem rever nosso papel no mundo e nossa existência. Não somos como aranhas, ou abelhas, ou formigas que vivem numa imutável cultura, incapazes de decidir ou optar por um tipo de vida diferente. A natureza fez os animais assim, mas nós não somos assim, e nos recusamos a ser diferentes.

Escolha a ÚNICA alternativa que não completa a seguinte frase “quando as pessoas, por causa do progresso tecnológico, intervêm nos costumes, nas tradições, na forma de comunicar, nas relações entre as pessoas, mudando o rosto do mundo...”:

(A) Estão se readaptando ao cosmos porque as coisas não param de mudar.
(B) Estão criando novas culturas e recriando as existentes.
(C) Confirmam que cultura e tecnologia jamais andam juntas pois uma nega a outra.
(D) Demonstram que o progresso tecnológico altera os processos culturais em sua essência.
(E) Demonstram que a tecnologia influencia nosso jeito de ser e pensar.

QUESTÃO 13
Os estudos da Biologia nos ajudam a compreender que os animais, como as formigas, por exemplo, convivem entre si a partir de regras rígidas e imutáveis da Natureza. Por esta razão, a violência entre animais ocorre somente por duas causas fundamentais: fome e ameaça. Não há animal que violente ao outro ou ao ser humano exceto nos dois casos. Diferentemente dos animais, o ser humano teima em não seguir as normas da natureza, negando-se a obedecê-las. Por isso, ele é o único animal que mata por prazer, violenta e humilha o outro por querer. Essa disposição em não obedecer a regras da natureza é um dos fatores que nos diferenciam dos animais em comum.

Baseado nessa introdução assinale o item que descreve nossa igualdade em relação aos animais:
(A) A capacidade de relacionar inteligentemente dados, memorizá-los para uso posterior.
(B) A linguagem inteligível, conceituada e simbólica.
(C) A cultura, ou seja, o acúmulo de conhecimento e  experiência das gerações nos diferencia dos animais comuns.
(D) O hábito de comer e beber todos os dias, bem como o de dormir e o de acordar.
(E) Nossa religiosidade e crença em seres superiores.

 QUESTÃO 14
A evolução humana é prova de que usamos com racionalidade perfeita nossas culturas e a recriamos a cada dia. Usamos as mãos para evoluir nossos instrumentos tecnológicos; a nossa inteligência para conhecer cada vez mais o universo. Somos capazes de transformar o universo e fazer dele uma morada fantástica. Ás vezes, usamos essa capacidade para transformar nosso cotidiano num inferno. A evolução cultural é a característica mais evidente do ser humano. Mas, a pergunta por que o ser humano evoluiu e evolui? Pode ser respondida de várias maneiras. Assinale o item que responde corretamente a questão acima:

(A) Porque ele vive em sociedade como as abelhas ou as formigas.
(B) Porque ele se percebeu capaz de criar, inventar, transformar e descobrir.
(C) Porque ele é inteligente e tem cérebro.
(D) Porque ele é capaz de manipular objetos pois tem um polegar opositor.
(E) Porque ele acredita em Deus e tem religião.

QUESTÃO 15
Denominamos de Cultura:
(A) os acontecimentos históricos ocorridos ao longo dos tempos.
(B) o acúmulo de conhecimento e experiência das gerações.
(C) os processos técnicos desde seu desenvolvimento na sociedade primitiva.
(D) a capacidade de tecer comparações entre os vários períodos da história.
(E) o desenvolvimento científico acumulado em séculos de pesquisas e estudos.

CONSIDERE O TEXTO QUE SEGUE PARA
RESPONDER AS QUESTÕES DE 16 A 19.
A finalidade da filosofia pode ser dita como o fundamento e o sentido último de todos os fins, ou seja a apreensão do ser. Mas há dificuldade de se encontrar com a identidade no próprio seio das diferenças. O ser contra o nada, a ausência contra a aparência, o bem contra o mal, o inteligível contra o sensível, o permanente contra o mutável, o verdadeiro contra o falso, o racional contra o animal, o necessário contra o contingente, o uno contra o múltiplo, a sincronia contra a diacronia.  Onde podemos apreender de fato o ser? E quando finalmente o apreendemos, é essa apreensão verdadeira ou falsidade na aparência forçosa da verdade? Nessa dúvida sistemática perpassa a certeza de que não haverá a imposição de nenhuma verdade que não seja problematizada e pensada em todos os seus aspectos por cada um de nós. Por isso, essa dúvida nos abre sem possibilidade de fechamento à  questão do sentido de nossas vidas. A verdade e a não-verdade, a certeza e a ilusão são como um bufão em permanente riso debochado de nossa consciência, como a dizer:  vocês desconhecem o paradoxo da revolução do pensamento. Um dos maiores paradoxos do pensamento remonta aos filósofos da natureza, os antigos gregos. A denominação "filósofos da natureza" é dada aos primeiros pensadores gregos por estes se interessarem pelos processos naturais. Eles partiram do pressuposto de que sempre existiu alguma coisa e, vendo as transformações que ocorriam no meio ambiente, indagavam-se como aquilo era possível. Então, acreditavam que havia uma substância básica que subjazia a tais transformações. Os filósofos também tentaram descobrir leis eternas a partir da observação dos fatos, desconsiderando explanações mitológicas. Assim, a filosofia se libertava da religião e os primeiros indícios de uma forma científica de pensar começavam a aparecer.
Falaremos de alguns pensadores desta época. Comecemos por Tales, Anaximandro e Anaxímenes, três filósofos de Mileto. Tales achava que a água era um elemento de fundamental importância. Dela tudo se originava e a ela tudo retornava. Anaximandro não pensou como Tales. A seu ver, a Terra era um entre vários mundos surgidos de alguma coisa, sendo que tudo se dissolveria nessa "alguma coisa" que ele denominava de infinito, ou apeiron, uma espécie de elemento básico gerador do movimento universal.
Anaxímenes cria que o ar era a substância básica de todas as coisas. A água seria a condensação do ar e o fogo, o ar rarefeito. Pensava ainda que se comprimisse mais ainda a água, esta se tornaria terra.
Para Parmênides, nada podia vir do nada e nada que existisse poderia se transformar em outra coisa. Era extremamente racionalista e não confiava nos sentidos. Não acreditava nem quando via, embora soubesse que a natureza se transformava.
Heráclito pensou que a principal característica da natureza eram suas constantes transformações. Ele confiava nos sentidos. Sobre ele, podemos falar ainda que acreditava que o mundo estava impregnado de constantes opostos: guerra e paz, saúde e doença, bem mal e que reconhecia haver uma espécie de razão universal dirigente de todos os fenômenos naturais.
Para acabar com o impasse a que a filosofia se encontrava, Empédocles fez uma síntese do modo de pensar de Heráclito e Parmênides e com isso chegou a uma evolução do pensamento. Empédocles acreditava na existência de mais de uma substância primordial. Para ser mais exato, havia quatro elementos básicos: terra, ar fogo e água e tudo existente era produto da junção disso, em proporções diferentes. Achava também que o amor e a disputa eram duas forças que atuavam na natureza. O amor une e a disputa separa as coisas.
Ora, Anaxágoras declarava que as coisas eram constituídas por pequenas partículas invisíveis a olho nu que podiam se dividir, mas mesmo na pequena parte existia o todo. Ele as denominava de sementes ou gérmens. Também imaginou uma força superior, a inteligência, responsável pela criação das coisas. Anaxágoras foi o primeiro filósofo de Atenas, mas foi expulso da cidade acusado de ateísmo. Interessava-se por astronomia, explicou que a Lua não possuía luz própria e como surgiram eclipses.
  
Finalmente temos Demócrito, o último filósofo da natureza. Ele imaginou a constituição das coisas por partículas indivisíveis, minúsculas, eternas e imutáveis e as chamou de átomos. Estes, a seu ver, possuíam vários formatos, se diferenciavam entre si e podiam ser reaproveitados. Por exemplo, quando um animal morresse seus átomos participariam da constituição de outros corpos. Era justamente por isso que o Lego era o brinquedo mais genial do mundo. Ele podia ser utilizado para a construção de vários objetos, ficando a cargo da imaginação das pessoas. Era resistente e "eterno", pois em qualquer época, crianças se interessavam por este tipo de entretenimento. Com os conhecimentos atuais, sabe-se que Demócrito estava certo em grande parte de sua teoria, mas errou ao falar que os átomos são indivisíveis. Demócrito foi um filósofo que valorizou a razão e as coisas materiais. Não acreditava em forças que interviessem nos processos naturais. Achava também que sua teoria atômica explicava nossas percepções sensoriais e que a consciência e a alma também se constituíam de átomos. Ele não cria numa alma imortal.

QUESTÃO 16
A Filosofia é uma disciplina bastante abrangente em seu conteúdo de aprendizado, pois ela é vista como a mãe das outras ciências. Ora, é costume dizer que quando refletimos sobre a vida a partir de fundamentos filosóficos, quando debatemos filosoficamente o mundo, sempre iniciamos com questionamentos nem sempre fáceis de resolver. Com base nas afirmativas acima, julgue os itens abaixo como verdadeiros (V), ou falsos (F):

I. - Os questionamentos filosóficos não são gerados em vista de uma solução, mas como exigência do pensar.
II. - Eles são formulados para exigir da consciência humana o ato de pensar. 
III. - Não cabe nos questionamentos filosóficos direcionamento para um pensar único e perfeito.
IV. - O pensamento não deve estar preso entre as paredes da crença e do fundamentalismo.

Assinale abaixo a alternativa que aponta a correta ordem sequencial:
(A) I, II e IV são verdadeiros e III é falso
(B) III e IV são verdadeiros.
(C) Todos os itens são falsos
(D) I, II e III são falsos e o IV é verdadeiro
(E) todos os itens são verdadeiros

QUESTÃO 17
Dos séculos VI a III a.C. ocorreu o nascimento da Filosofia na Grécia. Este é o segundo momento da História do Pensamento Humano. O primeiro, referindo-se ao Pensamento Oriental, estava voltado para uma luta desenfreada para atingir o absoluto. Na  Filosofia Clássica, ou grega. Os primeiros filósofos eram chamados de  naturalistas. Eles buscaram respostas ao problema da vida na natureza. Alguns filósofos se destacaram por apontar uma única substância como princípio fundamental, ou elemento fundamental capaz de por si só dar uma explicação razoável sobre o mundo.

Relacione os filósofos abaixo aos elementos que eles  apontaram como princípio fundante:

I- Tales de Mileto (624-546 a.C.)                             
II- Anaxímenes (585-528 a.C.)                                              
III- Heráclito (570-490 a.C.)                                                     
IV- Empédocles (492-432 a.C.)               

(III) Fogo
(II) Ar
(I) Água
(IV) Terra

A ORDEM SEQÜENCIAL da resposta é:
(A) I, II, III e IV
(B) I, IV, III e II
(C) III, II, I e IV
(D) III, I, II e VI
(E) IV, II, I e III

QUESTÃO 18
O pensamento de Anaximandro segue a idéia de Tales de Mileto, pois ele afirma haver uma substância denominada de Apeiron. Com relação ao apeiron, das alternativas abaixo, podemos apontar como verdadeiras somente as seguintes:

I - É uma substância primária que segue a lei natural
II - É princípio gerador de um Movimento Eterno no Universo
III - A terra tem sua origem no Apeiron
IV - o Apeiron é finito e limitado pois não gera nada
V - o Apeiron originou-se da Terra.

Assinale abaixo a alternativa que aponta a correta ordem sequencial:
(A) I, II e III são verdadeiros e IV e V são falsos
(B) Todos os itens são falsos
(C) I, II e III são falsos e IV e V são verdadeiros
(D) II, III e IV são verdadeiros.
(E) todos os itens são verdadeiros

Justificativa: Para Anaximandro o Apeiron é infinito e ilimitado e gera tudo o que conhecemos, portanto, a afirmativa IV é falsa. O Apeiron não originou-se da Terra, pelo contrário, é dele que origina a Terra, portanto, a afirmativa V também está incorreta.

QUESTÃO 19
Demócrito é o último filósofo da natureza. Ele imaginou a constituição das coisas como um objeto chamado Átomo. Essas partículas eram a base constitutiva de qualquer objeto. Estão abaixo algumas características do átomo, na concepção de Demócrito.
Aponte a única alternativa que não é característica do átomo, segundo Demócrito:

(A) É uma partícula indivisível, minúscula, eterna e imutável.
(B) Era resistente e eterno.
(C) Ele possuía vários formatos, se diferenciava entre si e podia ser reaproveitado.
(D) Ele era uma partícula indivisível e minúscula, mas por não ser resistente, não era eterna.
(E) Não é possível de vê-lo a olho nu.

Justifique sua resposta: a primeira parte da afirmação está correta, para Demócrito, o átomo era uma partícula indivisível, porém, resistente e eterna.

QUESTÃO 20
Sobre os Pré-Socráticos, associe as ideias/feitos expressos nas máximas abaixo a seus respectivos pensadores: 

(1) O estado inicial de todas as coisas tem de ser indeterminado, ou seja, não se identifica com nenhum outro elemento já descoberto. 
(2) Foi o primeiro a afirmar que a Lua recebe sua luz do Sol. 
(3) O mundo é um fluxo perpétuo onde nada permanece idêntico a si mesmo, mas tudo se transforma no seu contrário.
(4) O ser é uno, contínuo, único e eterno; sem princípio nem fim. 
(5) Foi o primeiro a conceber a água como substrato e força geradora de tudo. 

(4) Parmênides de Eleia. 
(5) Tales de Mileto. 
(1) Anaximandro de Mileto. 
(2) Anaxímenes de Mileto. 
(3) Heráclito de Éfeso. 

A sequência numérica, de cima para baixo, que contém a associação correta é: 
(A) 4, 5, 1, 2, 3 
(B) 4, 5, 3, 2, 1 
(C) 5, 4, 1, 2, 3 
(D) 1, 2, 3, 4, 5 
(E) 5, 4, 3, 2, 1 

QUESTÃO 21
Analise os conceitos abaixo acerca do tema FILOSOFIA e enumere a coluna seguinte de acordo com o conceito correto.

1- Lógica
2- Cultura
3- Antropologia
4- Estética
5- Pesquisa
6- Hermenêutica
7- Epistemologia

(1) É uma parte da filosofia que estuda o fundamento, a estrutura e as expressões humanas do conhecimento. Foi criada por Aristóteles no século IV a.C. para estudar o pensamento humano e distinguir interferências e argumentos certos e errados. 
(7) Também chamada de teoria do conhecimento, é o ramo da filosofia que trata da natureza, das origens e da validade do conhecimento. Entre as principais questões debatidas pela epistemologia destacam-se: O que é o conhecimento? Como obtemos conhecimento?
(3) É a ciência que tem como objeto o estudo sobre o homem e a humanidade de maneira totalizante, ou seja, abrangendo todas as suas dimensões.
(4) É um ramo da filosofia que tem por objeto o estudo da natureza do belo e dos fundamentos da arte. Ela estuda o julgamento e a percepção do que é considerado belo, a produção das emoções pelos fenômenos estéticos, bem como: as diferentes formas de arte e da técnica artística; a ideia de obra de arte e de criação; a relação entre matérias e formas nas artes.
(5) É um processo sistemático de construção do conhecimento que tem como metas principais gerar novos conhecimentos, e/ou corroborar ou refutar algum conhecimento pré-existente. É basicamente um processo de aprendizagem tanto do indivíduo que a realiza quanto da sociedade na qual esta se desenvolve. Também pode ser definida como o conjunto de atividades orientadas e planejados pela busca de um conhecimento

(6) é um ramo da filosofia e estuda a teoria da interpretação, que pode referir-se tanto à arte da interpretação, ou a teoria e treino de interpretação.
(2) É “aquele todo complexo que inclui o conhecimento, as crenças, a arte, a moral, a lei, os costumes e todos os outros hábitos e aptidões adquiridos pelo homem como membro da sociedade”.

QUESTÃO 22
Continue analisando os conceitos filosóficos abaixo e enumere a coluna seguinte de acordo com o conceito correto.

1- Incognoscível
2- Abstração
3- Agnosticismo
4- Alteridade
5- Altruísmo
6- Axiologia
7- Egoísmo     

(4) É a concepção que parte do pressuposto básico de que todo o homem social interage e interdepende do outro. É a relação de oposição entre o sujeito pensante (o eu) e o objeto pensado (o não eu).
(2) É o processo de pensamento em que ideias são distanciadas dos objeto (filosofia) objetos, operação intelectual onde existe o método que isola os generalismos teóricos dos problemas concretos por forma a resolver os últimos.
(1) É aquilo que não se pode ser conhecido.
(5) É um tipo de comportamento encontrado nos seres humanos e outros seres vivos, em que as ações de um indivíduo beneficiam outrem. No sentido comum do termo, é muitas vezes percebida como sinônimo de solidariedade. A palavra foi cunhada em 1831 pelo filósofo francês Augusto Comte para caracterizar o conjunto das disposições humanas (individuais e coletivas) que inclinam os seres humanos a dedicarem-se aos outros.
(3) Doutrina segundo a qual o fundo das coisas é incognoscível, não podendo ser conhecido pelo espírito humano.
(7) É o hábito ou a atitude de uma pessoa colocar seus interesses, opiniões, desejos, necessidades em primeiro lugar, em detrimento (ou não) do ambiente e das demais pessoas com que se relaciona.
(6) Ou filosofia dos valores, é o campo da filosofia que reflete sobre a natureza e as características do valor.
  
QUESTÃO 23
A- Defina o conceito de INSTINTO:

Do latim instinctus: impulso ou inclinação. Comportamento inato (que nasce com o indivíduo) e que independe das circunstâncias e do controle racional da vontade.

B- Na sua opinião, o homem também age movido por instintos? Justifique.

Mesmo sendo um ser de linguagem e racional, o que lhe diferencia dos demais animais da natureza, o homem também age guiado por instintos, tais como instinto: de sobrevivência, sexual, proteção da vida e da prole, alimentação, etc..

QUESTÃO 24
Defina o conceito de CULTURA:

A palavra cultura tem vários significados, como cultura da terra ou cultura de uma pessoa letrada, “culta”. Em antropologia, cultura significa tudo o que o ser humano produz ao construir sua existência: as práticas, as teorias, as instituições, os valores materiais e espirituais. Se o contato com o mundo e intermediado pelo símbolo, a cultura é o conjunto de símbolos elaborados por um povo.



QUESTÃO 25
Questão de argumentação, resposta pessoal.

QUESTÃO 26
Questão de argumentação, resposta pessoal.

QUESTÃO 27
Questão de argumentação, resposta pessoal.

QUESTÃO 28
Questão de argumentação, resposta pessoal.

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A razão, desde Freud

Ao inventar a Psicanálise, Freud esbarra em temáticas e tradições filosóficas que ele não inventou. Um conceito moderno de razão não pode ser indiferente à subversão freudiana.

Por: Gilson Iannini 


"Isso não é nada! Deve ser psicológico!” Quantas vezes frases do tipo não são proferidas ali, onde o discurso médico se depara com seus limites? Buscando tranquilizar o paciente quanto à natureza de seu sofrimento, o médico afirma algo do tipo: “Fique tranquila, você não tem nada. Seu sintoma é psicológico”. Sem se dar conta, o discurso médico, nesses momentos, acaba emprestando ao sintoma o estatuto de mentira, de falsidade.
Esse quadro não era muito diferente na Viena antes de Sigmund Freud (1856-1939). E foi contra esse silenciamento do sintoma que Freud se levantou. A premissa fundamental sobre a qual ele inventou a Psicanálise era justamente a de que um sintoma – fosse ele histérico, obsessivo, fóbico, paranoico –, traduzia algo da ordem da verdade. Mesmo que não houvesse nenhuma base orgânica reconhecível. Mesmo que não houvesse, na disposição do saber, uma figura capaz de acolher a espessura daquele sofrimento.
Esse “nada” ao qual o discurso médico reduzia o sofrimento psíquico foi elevado por Freud ao estatuto de uma verdade do sujeito. Para o inventor da Psicanálise, a inexistência de um substrato orgânico para a doença não queria dizer que o sintoma não fosse real. Mas de que real o sofrimento psíquico nos fala? Qual é o gênero de verdade posto pelo sintoma?
A essa altura, o leitor pode questionar: mas o que tudo isso tem a ver com Filosofia? Por que diabos um filósofo, ocupado com grandes temas acerca da razão e do conhecimento, do agir e dos valores, deveria preocupar- se com questões tão regionais, tão marginais, relativas ao sofrimento psíquico? O interesse filosófico da Psicanálise reside justamente aí. Sem que Freud tivesse procurado, ele esbarra em problemas e tradições externas à racionalidade psicanalítica. Ao construir sua metapsicologia, o arcabouço conceitual da teoria que fundamenta a prática de escuta e tratamento do sofrimento psíquico, Freud acaba formulando uma teoria do sujeito calcada em dois pilares: a estrutura inconsciente da atividade mental e o caráter pulsional da sexualidade humana.
Autor: Gilson Iannini é filósofo e pscanalista. Doutor em Filosofia na (USP), mestre em Psicanálise ( Universidade de Paris VIII). Professor do Departamento de Filosofia da Universidade Federal de Ouro Preto (UFOP). Autor de Estilo e Verdade em Jacques Lacan
Assim sendo, ele acaba questionando dois pilares da Filosofia Moderna: a equivalência entre subjetividade e consciência, e o postulado da autonomia da vontade. Ao deixar de caracterizar o sujeito pela transparência dos atos de consciência – desde Descartes, o conhecimento humano seria definido por meio da evidência para a consciência (tudo aquilo que é evidente para mim, na ordem das razões, deve ser verdadeiro na ordem das coisas) –, Freud estaria propondo abandonar o solo seguro da consciência como base da teoria da subjetividade. Além disso, ao mostrar o caráter pulsional da sexualidade, Freud estaria questionando a ideia, tão cara a Kant, de que só podemos ser responsabilizados por nossos atos porquanto agimos fundamentados unicamente na autonomia da vontade.
O conceito de pulsão diz justamente que, no domínio de nossas escolhas sexuais, incluindo aí as escolhas relativas ao nosso próprio ser, os móveis últimos das nossas escolhas não coincidem com o que designamos como “vontade livre”. Ao contrário, somos determinados, ao menos em parte, por fatores contingentes ligados à nossa história singular como sujeitos.
Por tudo isso, Jacques Lacan (1901- 1981) propôs o provocativo sintagma “a razão desde Freud” para indicar que a racionalidade moderna não poderia ser indiferente ao corte representado pela invenção da Psicanálise, como teoria e como dispositivo de uma práxis. Por exemplo, sem que pudesse adivinhar, Freud, ao acolher o sofrimento psíquico como uma verdade discordante em relação ao saber médico, acabou reafirmando uma tese filosófica cara à dialética. Hegel (1770-1831) dizia que verdade e saber são duas ordens separadas, que só coincidiriam no longínquo momento do saber absoluto. Mas, na experiência da consciência, saber e verdade entrariam numa espécie de conflito. A cada passo dado pelo saber, algo da verdade escapa a esta apreensão pelo conceito. Ora, a Psicanálise, diz Lacan, representa um novo sismo nas relações entre saber e verdade.
Mas isso não é tudo. Não apenas algumas ideias centrais da concepção filosófica acerca da subjetividade moderna são postas em xeque pela invenção da Psicanálise. Pois alguém poderia dizer: “Sim, é verdade, mas a estrutura da razão como tal não tem nada a ver como isso!” Mas não é bem assim. Freud, ao tratar do inconsciente, por exemplo, não está dizendo que algumas de nossas ideias são desconhecidas de nós mesmos ou que haveria uma zona escura da nossa mente habitada por fantasmas; que somos, no fundo, animais irracionais. Ao contrário, Freud está afirmando que o inconsciente é estruturado por leis sistemáticas. Que o pensamento, em si mesmo, antes de adquirir a qualidade inconstante da consciência, é inconsciente. Ou seja, ele está postulando que a própria razão não é mais a mesma, se admitirmos as ideias de inconsciente e de pulsão.
Muitas questões importantes se estabelecem desde então: é a Psicanálise uma Ciência? O que a Psicanálise pode nos dizer acerca da Ética e da responsabilidade? Os conceitos psicanalíticos servem apenas para pensar a prática clínica ou eles podem nos auxiliar a repensar a teoria social, as produções estéticas e a experiência religiosa? São questões deste tipo que a coluna que inauguramos hoje pretende abordar.


Retirado da Revista Filosofia Ciência & Vida

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A arte de viver da Amizade

Desde a Grécia Antiga até o isolamento social vivido na pós-modernidade, a amizade mostra-se essencial e saudável para o homem e as suas relações.
POR IVO JOSÉ TRICHES


Ivo José Triches é formado em Filosofia e Especialista em Pensamento Contemporâneo pela PUC-PR; em Filosofia Política pela UFPR e Filosofia Clínica pelo Instituto Packter. Mestre em Mídia e Conhecimento pela UFSC. É professor da Pós-graduação das Faculdades Itecne no Paraná. ivo@ itecne.com.br

Tema que acompanha a história da Filosofia durante os tempos, sob o olhar de grandes pensadores como Epicuro e Aristóteles, a reflexão sobre a amizade torna-se pertinente em tempos de tecnologia e isolamento social cada vez mais atuantes em nossas vidas. E a “cura” desses males modernos seria justamente os amigos, as companhias “extremamente necessárias à vida”, da juventude à velhice, como diria um dos mais influentes filósofos gregos, Aristóteles.
Para a Filosofia, a amizade pode nos ajudar a melhorar o endereço existencial, ou seja, a possibilidade que temos de melhorar as condições históricas de nossa existência.
Vivemos no momento histórico em que o mundo do ciberespaço parece mostrar que é possível viver no mais puro solipsismo (crença filosófica segundo a qual, além de nós, só existem as nossas experiências). Tudo parece corroborar para isso e a violência também contribui para agravar a situação, principalmente nos grandes centros urbanos. Assim, existe a ilusão de que é possível viver sem amigos, e de que a tecnologia suprirá esta lacuna.
HERMÍNIO OLIVEIRA - AGÊNCIA BRASIL
Com o cristianismo surge o amor caridade em forma de uma tríade, que engloba o eu, o próximo e Deus
Para fazer frente ao isolamento social característico dos nossos dias, de acordo com Aristóteles, “de fato, de que serviria tanta prosperidade sem a oportunidade de fazer o bem, se este se manifesta, sobretudo e em sua mais louvável relação com os amigos? Ou, então, como se pode manter e salvaguardar a prosperidade sem amigos? Quanto maior for ela, mais perigo correrá. E, por outro lado, as pessoas pensam que na pobreza e no infortúnio os amigos são o único refúgio”.
Para Aristóteles, a amizade pode ajudar os jovens a evitar o erro, auxilia os mais velhos à medida que serão amparados em suas necessidades e os que estão em pleno vigor da idade poderão ter suas ações melhoradas. Para ele, isso ocorre porque amigos são pessoas “que andam juntas” e por isso “são mais capazes de agir e pensar ” um procurando lapidar o outro.
No mundo grego, a amizade ocupava um lugar de destaque. Contudo, acreditava-se que a amizade autêntica só poderia ocorrer entres os homens. Com o advento do Cristianismo, o amor Philia foi relegado a um segundo plano. No seu lugar, o amor se destaca. E por quê? Por causa do amor caridade triádico. Para os cristãos, só existe sentido eu amar o próximo se nele eu puder ver a imagem e semelhança de Deus. Por isso, exige que no amor caridade este ja presente três seres: eu, o próximo e Deus. Ao passo que a amizade é diática. Porque a relação ocorre entre mim e o outro, apenas.

AS VÁRIAS FORMAS DE AMOR
Em nossa língua portuguesa utilizamos o conceito amor para definir muitas coisas. É comum ouvirmos
pessoas que dizem: ”eu amo meus pais! Eu amo meus filhos! Eu amo a natureza!” Quem é mais
religioso costuma dizer: “eu amo vir à igreja!” Entre os jovens, às vezes ouvimos: “eu amo tal pessoa! 
Hoje eu quero encontrar alguém para fazer amor!” Assim, o significado da palavra amor toma dimensões 
diferentes conforme o caso e a situação.
No momento histórico em que a Filosofia começou a se afirmar como mais uma forma de conhecimento
da realidade, no mundo grego, o conceito amor tinha pelo menos oito significados diferentes.
A primeira forma de amor era o Pornéia1, ou seja, um amor voraz e devorador. Como exemplo, temos o
amor da criança em relação ao processo de amamentação. Depois nos deparamos com uma forma de
amor possessivo a que eles chamavam de amor Pathé e mania. Observe que é o mesmo radical da
palavra patologia e o mesmo de paixão.
Daí que, para Platão, a paixão era uma enfermidade do coração e precisava ser controlada. Na escala
dos diferentes níveis de amor, segundo os gregos, encontraremos o amor Eros. Aqui temos o amor 
desejo, isto é, “eu a amo, por isso maravilhome com ela. Quero que ela esteja próxima a mim para 
que eu possa cuidá-la”.Estas três primeiras formas de amor são definidas como “amor sentimento” 
porque elas nascem na parte vegetativa, como dizia Aristóteles. A primeira forma de “amor atitude” 
que assim definimos, para os gregos, era o amor Estorgue, o que para eles tinha o significado de amor 
harmonia. Ele ocorre em nós quando desejamos nos harmonizar com os outros, com nós mesmos 
ou com a natureza. O tipo seguinte de amor é o Philia: amizade.
Para os gregos, esta forma de amor sofria variações. A forma de amor entre parentes, dos pais para
com seus filhos e vice-versa, era denominada de amor Physiqué. A Philia Zeiniqué era o amor como 
hospitalidade, por exemplo, no ato de receber bem os amigos em nossos lares. Já a Philia Estouriqué 
significava o amor entre duas pessoas, uma doando-se à outra, querendo também que o outro seja feliz, 
um sem ter inveja do outro. Portanto, a autêntica amizade.
O amor Énnoia como devotamento, como dom ou doação, e o amor Kháris, gratidão. Para eles, era
muito significativo olhar para alguém e poder dizer: “muito obrigado por você existir na minha vida!” 
Se usarmos o arco-íris como metáfora, poderíamos dizer que a última cor seria o amor .
Este, para os gregos, significava a gratuidade, o amor incondicional ao outro. Eu faço o bem pelo
prazer de fazê-lo, sem desejar nada em troca. Ou seja, o que os cristãos2 chamam de amor caridade. 
É importante destacar o fato de muitos atores sociais só conhecerem algumas cores deste “arco-íris”, 
razão esta que nos permite compreender por que suas dores existenciais normalmente se manifestam 
em suas vidas.

1 Estes conceitos foram inicialmente apresentados por Jean-Yves Leloup, autor do livro O corpo e seus símbolos (Editora Vozes). 
Ao compreendermos esta primeira forma de amor chegaremos à etimologia da palavra pornografia. Formada pelo prefixo 
Porno = derivado dePornéia e pelo sufixo grafos = escrita, descrição. Daí seu significado.
2 Ao encontrar-se com a cultura grega que ainda estava latente no mundo romano, os apóstolos contaram o que Jesus tinha feito. 

Então os gregos passaram a se referir a ele como o maior exemplo de amor . Depois, com a tradição, difundiu-se a idéia de que 
o amor é o amor sobrenatural. O amor de Deus para conosco.

CARIDADE ABSOLUTA
A teologia cristã exige que a caridade seja absoluta. Devemos amar a todos indistintamente. Na amizade, não é isso que encontramos. Sua dimensão é facultativa, eu posso escolher com quem eu quero construir uma relação de amizade. Uma terceira característica que diferencia esta forma de amor é que, se para a caridade a relação pode não ser recíproca, para o amor Philia exige-se a reciprocidade. Assim, não é possível ser amigo de alguém que não seja, por sua vez, meu amigo.
SHUTTHERSTOCK
Ao longo dos séculos da era cristã, a hegemonia do amor caridade foi absoluta. No entanto, no século XVIII, com o surgimento do Iluminismo, esta forma de pensar começou ser questionada. Foi um período histórico em que a possibilidade de haver também amizade entre os dois sexos começou a ser cogitada. Isso ocorreu porque os ideais de Liberdade, Igualdade e Fraternidade começaram a ser difundidos de forma mais intensa. Neste momento, o amor Eros também se destaca. O que vemos a partir daí foi a anexação da amizade por parte do amor Eros e do amor Philia. Isso ocorre durante os séculos XIX e XX.
De acordo com a tese de Máximo Baldini, na sua obra Amizades e Filósofos, não se pode aceitar que seja dado um atestado de óbito ao amor Philia. Assistir a essa “morte”, de braços cruzados, é permitir que as dores existenciais se proliferem por toda a parte.
Ao começar a escrever sobre este assunto, Aristóteles diz que a amizade é absolutamente necessária à vida. O argumento que justifica a afirmação reside no fato de que “ninguém escolheria viver sem amigos, ainda que dispusesse de todos os outros bens, e até mesmo pensamos que os ricos, os que ocupam altos cargos e os que detêm o poder são os que mais precisam de amigos”.
QUANTO AO NÚMERO IDEAL DE AMIGOS
Afinal, de quantos amigos eu necessito para viver bem e ser feliz? Esta questão também foi respondida por Aristóteles. O que parece evidente é que ele, mais uma vez, confirma aquilo que se repetia com freqüência no pensamento de outros filósofos da época do mundo grego, qual seja, a idéia da justa medida.
Deve-se buscar sempre o meio-termo. Nem ter amigos em excesso nem querer viver sem nenhum amigo. Por isso, em relação a esta questão, ele diz que “parece que convém não procurar ter o maior número de amigos que pudermos, mas somente quantos forem suficientes para os fins do convívio, visto que parece impossível ser um grande amigo de muitas pessoas”.

A LEITURA DE ARISTÓTELES
O que torna a leitura acerca deste tema significativa na obra de Aristóteles são as três definições de amizade que ele apresentou (mais tarde, Kant retoma tais definições apenas estabelecendo uma pequena diferença na terceira).
Para o filósofo o primeiro tipo de amizade é a amizade útil. São “aqueles que fundamentam sua amizade no interesse, amam-se por causa de sua utilidade, por causa de algum bem que recebem um do outro, mas não amam um ao outro por si mesmos”. Este tipo de amizade ocorre principalmente entre os mais velhos. Isto é, se preciso de um médico de confiança ou de um sapateiro, então me aproximo deles e faço amizade. Quando já não preciso do médico e nem tenho mais calçados para mandar arrumar, já não mais necessitarei ter amizade com eles.
ACERVO CIÊNCIA & VIDA
O convívio só lhes é agradável enquanto desperta uma na outra a esperança de que algum bem lhes possa acontecer.
O segundo conceito de amizade é o de amizade agradável, razão pela qual “o mesmo se pode dizer a respeito dos que amam por causa do prazer; não é por causa do caráter que os homens amam as pessoas espirituosas, mas porque as consideram agradáveis”. Este tipo de amizade não deixa de ser egoísta, porque “os que amam os outros por causa do interesse, amam pelo que é bom para eles mesmos”. Entre os jovens, esta se destacaria, uma vez que eles são guiados mais pela emoção e procuram mais o que lhes dá prazer.
Estas duas primeiras idéias demonstram tipos de amizades que apenas delimitam meios para se atingir um determinado fim. Por isso, Aristóteles nos diz que são amizades acidentais, “pois a pessoa amada não é amada por ser o homem que é, mas porque proporciona algum bem ou prazer. É por isso que tais amizades se desfazem facilmente se as partes não permanecem como eram no início, pois, se uma das partes cessa de ser agradável ou útil, a outra deixa de amála”. Isso ocorre porque, como sabemos, “útil” e “agradável” são valores relativos, ou seja, se modificam constantemente.
Para o filósofo brasileiro Leonardo Boff, a estrutura central do ser humano não é a razão e sim o afeto
Contudo, há um terceiro conceito, este, sim, definido e apresentado por Aristóteles como sendo a amizade ideal. É a amizade perfeita. Sua definição: “é aquela que existe entre os homens que são bons e semelhantes na virtude, pois tais pessoas desejam o bem um no outro de modo idêntico, e são bons em si mesmos”. Este tipo de amizade não é acidental. Pode tornar-se permanente uma vez que “aqueles que desejam o bom aos seus amigos por eles mesmos são amigos no sentido mais próprio, porque o fazem em razão de sua natureza e não por acidente”.
Ele retoma este conceito presente no pensamento de Platão, que, no diálogo chamado Lísis ou da amizade, escreve o seguinte: “somente o homem de bem é amigo do outro homem de bem, ao passo que o malvado não pode chegar à verdadeira amizade nem como o homem bom nem com outro malvado”. Decorre daí a idéia central de que o amigo perfeito é aquele que ajuda o outro a encontrar o caminho do bem. Por isso, ela só pode ocorrer “entre duas pessoas que sejam sensíveis e virtuosas”, como dizia Voltaire.
ACERVO CIÊNCIA & VIDA
Leonardo Boff, doutor em Filosofia e Teologia. Para ele, a amizade ocupa papel de destaque nas relações humanas, sendo o afeto a estrutura central do homem e não a razão
Outro aspecto a ser destacado é que uma amizade desta natureza requer tempo e prática. Às vezes eu posso conhecer uma pessoa há 20 anos, mas não posso dizer que sou sua amiga. E por quê? Vejamos a resposta que ele nos apresentou: “além disso, uma amizade dessa espécie exige tempo e intimidade. Como diz o provérbio, as pessoas não podem conhecer- se mutuamente enquanto não tiverem ‘consumido muito sal juntas’; e, tampouco, podem se aceitar como amigos enquanto cada um não parecer digno de amizade ao outro, e este não lhe houver conquistado a amizade.As pessoas que depressa mostram mutuamente sinais de amizade desejam tornarse amigas, mas não o serão, a menos que ambas sejam dignas de amizade e reconheçam este fato, pois um desejo de amizade pode até surgir depressa, porém a amizade não”.
Considerando os fatos expostos, pode-se dizer que amizade é um conceito aplicável a todas as formas de relações sociais. Não há amizade, por exemplo, entre os traficantes. Um é apenas comparsa do outro, uma vez que ambos são especialistas na morte e não em desejar o bem da coletividade. São malvados pelas suas atitudes. “De fato, as pessoas más não se deleitam com o convívio uma das outras, salvo se essa relação lhes traz algum proveito” e, ainda, “os criminosos não parecem propensos à amizade, pois tais pessoas não têm muito de agradável, e ninguém deseja passar seus dias com pessoas cuja companhia é dolorosa ou não é agradável, já que a natureza parece evitar acima de tudo o que é penoso e buscar o agradável”, escreveu Aristóteles. Daí não ser possível a amizade entre eles.
Utilizar de modo indiscriminado a amizade para significar qualquer tipo de contato social presente em nosso cotidiano é contribuir para a banalização do conceito.
ART RENEWAL INTERNATIONAL
Segundo os gregos, a amizade autêntica só era possível entre pessoas do sexo masculino. Visão que irá mudar com o Iluminismo
Segundo Aristóteles, a amizade é mais importante que a justiça, e o argumento que justifica tal afirmação é o seguinte: “quando os homens são amigos não necessitam da justiça, ao passo que mesmo os homens justos necessitam também da amizade; e considera-se que a mais autêntica forma de justiça é uma espécie de amizade”.
O que torna esta afirmação significativa é a possibilidade de pensar que, se de fato tal pessoa é minha amiga no sentido de existir entre nós uma “amizade perfeita”, como o filósofo grego definia, logo não haverá espaço para que eu pratique alguma injustiça contra esta pessoa. O que importa dizer é que na amizade já está implícita a importância de ser justo em relação aos outros. Ao escrever sobre este tema, Aristóteles novamente destaca a importância da amizade quando diz que ela “não é apenas necessária, mas também nobre, pois louvamos os homens que amam seus amigos e considera-se que uma das coisas mais nobres é ter muitos amigos. Ademais, pensamos que a bondade e a amizade encontram-se na mesma pessoa”.
Ainda em relação à temática acima, pode-se destacar que o sumo bem para Aristóteles é a idéia da felicidade, e ela, para ser alcançada, necessita da ajuda dos amigos virtuosos. “Ora, alguém que é suficientemente feliz deve ter o que deseja, sob pena de, caso contrário, ser deficiente a esse respeito. Portanto, para ser feliz o homem necessita de amigos virtuosos”.


TEMPO E DISTÂNCIA
O filósofo brasileiro Leonardo Boff diz que a estrutura central do ser humano não é a razão e sim o afeto. Partindo deste pressuposto, pode-se então perceber que a amizade ocupa um lugar de destaque, sendo um dos principais bens que são necessários para a boa sociabilidade. Ela nasce da confiança mútua e é uma relação de amor, de afeto de tipo muito especial. Como dissemos anteriormente, a amizade é um sentimento recíproco. Não é possível ser amigo de alguém que não seja, por sua vez, nosso amigo.
Existe outro aspecto a ser destacado: às vezes, na amizade pode ocorrer a descontinuidade temporal-geográfica, ou seja, podemos ficar muito tempo sem encontrar um amigo, mas quando o vemos é como se estivéssemos com ele ontem. Um reencontro em que a alegria é intensa; não há cobrança pelo tempo que passou. Assim, uma relação entre amigos é uma relação de unidade porque nós podemos não estar reunidos o tempo todo, mas sentimos que estamos unidos por esse sentimento de reciprocidade. Eis o que sentimos quando nos encontramos com algum amigo, ou amiga, com quem já trabalhamos e construímos esse sentimento de unidade, seja pelas afinidades político-ideológicas ou pelas confidências no campo da vida privada.
É fácil ou difícilconstruirmos com os outros a amizade perfeita? A resposta de Aristóteles é que não é tão simples como se pode imaginar. “Mas não é natural que tais amizades sejam raras, pois homens assim também são raros”.
Hoje, passados aproximadamente dois mil anos de tal afirmação, podemos também dizer que este tipo de amizade não está por toda a parte porque ainda é raro encontrar homens com as características descritas
Epicuro (341-270 a.C.), pensador grego, tinha a seguinte máxima: “de todos os bens que a sabedoria nos ensina e que são necessários para a nossa sobrevivência, a amizade é de longe o maior”. Considerando também que ela se estabelece a partir de uma relação entre iguais, não havendo a possibilidade de nenhuma forma de dominação, pode-se dizer que a relação entre amigos se constitui em um lugar privilegiado para a materialização dos valores éticos. Uma vez exercitando tal prática, teremos como conseqüência a manifestação concreta daquela outra máxima: “eu vim para que todos tenham vida e vida em abundância”.
Muito embora saibamos hoje que poucos escritos de Epicuro chegaram até nós, sabe-se com segurança que ele foi um dos filósofos que enfatizou a importância da amizade “não temos tanta necessidade da ajuda dos amigos quanto da confiança de sua ajuda” e o outro “a amizade passa pela terra conclamando a todos nós a nos despertarmos a fim de nos parabenizarmos uns com os outros”.
Desde esse ponto de vista, vê-se claramente que a amizade convive bem com o amor Káris: está implícito que na amizade existe a necessidade da gratidão. Torna-se significativo eu poder dizer a um amigo ou amiga: “muito obrigado por você existir na minha vida!”
Deve-se buscar sempre o meio-termo. Nem ter amigos em excesso nem querer viver sem nenhum amigo
FONTE DE PRAZER
Se nos esforçarmos para que nossos encontros, principalmente aqueles da hora do intervalo do trabalho, por exemplo, sejam um espaço de fortalecimento de nossa amizade, pode ser uma ótima oportunidade de fazer com que nossas atividades no campo profissional sejam ainda mais prazerosas. No entanto, você que acompanha esta reflexão pode, certamente, confirmar a idéia de que o que comumente se vê nesses momentos é alguém falando mal do desempenho profissional de algum colega de trabalho ou mesmo do comportamento moral de alguém. Existe, dessa forma, apenas um sentimento, que é o da tristeza, porque ocupamos nosso tempo falando da dor e não da alegria, diferentemente da idéia de saborear e fortalecer a amizade.
Na opinião da filósofa Maria Lucia de Arruda Aranha, “talvez não seja muito fácil encontrarmos verdadeiros amigos. Mas, quando os temos, vale a pena cultivar sua amizade, que pode vir durar a vida inteira”. Assim, penso que a amizade é igual a uma samambaia: se você cuida dela com carinho e sua intencionalidade é que ela esteja cada vez mais linda, perceberá que ela lhe dará a exuberância de sua beleza.
Portanto, a existência do nosso encontro com outro é uma excelente oportunidade para que possamos cultivar esse que é o maior dos bens, nossa amizade.

REFERÊNCIAS
BALDINI, Massimo. Amizade e Filósofos. São Paulo. Ed. Edusc, 2000.
Aristóteles. Ética a Nicômaco. 4ª Edição. Ed. Martin Claret, 2000.
ARANHA, Maria Lucia de Arruda. Temas da Filosofia / Mara Helena Pires Martins. São Paulo. Ed. Moderna, 1992
BOFF, Leonardo. A força da ternura. Ed. Sextante, 2006.
LELOUP, Jean-Yves. O corpo e seus significados. 10ª edição. Petrópolis, RJ. Ed. Vozes, 2002.

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